O II Encontro da Comunidade Italiana do Rio Grande do Sul, realizado em Bento Gonçalves, trouxe à tona um dos temas mais delicados para os descendentes de imigrantes: as dificuldades e incertezas em torno da nova lei da cidadania italiana. O evento reuniu lideranças comunitárias, empresariais e políticas, além de representantes de entidades ítalo-gaúchas.
O deputado italiano Fabio Porta apresentou um panorama sobre o cenário jurídico e político que envolve a nova legislação. Segundo ele, possíveis alterações só devem ocorrer a partir de 2026, quando a Corte Constitucional da Itália deve analisar uma decisão de um juiz de Turim que considerou a lei aprovada pelo Parlamento como inconstitucional.
“Mesmo que a Corte julgue favoravelmente, os reflexos não serão automáticos. O governo errou ao aprovar uma lei sem ouvir a comunidade. A Itália precisa de mão de obra, mas segue na contramão do que seria uma política inclusiva”, afirmou Porta, lembrando que países como a Espanha têm adotado estratégias mais abertas de acolhimento a imigrantes de língua latina.
A presidente do Comites RS, Cristina Mioranza, destacou que a legislação acabou estimulando a mercantilização da cidadania, deixando de lado aspectos históricos e culturais.
“Nos últimos anos, vimos apenas o lado do negócio, e não o resgate das tradições. Além dos direitos, os cidadãos italianos têm também muitos deveres, e isso muitas vezes não era observado”, alertou.
A tesoureira do Comites-RS e integrante do Conselho Geral dos Italianos no Exterior, Stephania Puton, reforçou a necessidade de cidadania ativa. Ela lembrou que é dever dos ítalo-brasileiros atualizarem seus dados junto ao consulado, devolverem a cédula eleitoral recebida — mesmo em branco — e participarem das eleições italianas.
“Precisamos pensar no legado que vamos deixar para os jovens nos próximos 150 anos. Hoje, ainda falta engajamento deles na valorização da cultura italiana, e esse é um desafio que passa pelo ensino da língua e pela integração às entidades representativas”, afirmou.
Atualmente, o Brasil reúne cerca de 30 milhões de descendentes de italianos, sendo mais de 1 milhão com cidadania reconhecida.
O encontro também marcou a ampliação das celebrações pelos 150 anos da imigração italiana no estado. O secretário de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, Fabricio Peruchin, anunciou que o calendário de atividades será estendido até maio de 2026, reforçando o caráter histórico da data.
“O Rio Grande do Sul é o segundo local com mais italianos no mundo, atrás apenas da própria Itália. São cerca de 4 milhões de descendentes, o que corresponde a 40% da população gaúcha. Este é um resgate fundamental para a nossa identidade”, disse Peruchin.
O deputado estadual Guilherme Pasin, presidente da Frente Parlamentar Brasil-Itália, destacou que projetos tramitam na Assembleia Legislativa para reconhecer oficialmente a data como de relevante interesse cultural e destinar recursos do Fundo de Cultura para ações ligadas à comunidade ítalo-gaúcha.
O cônsul-geral da Itália no Rio Grande do Sul, Valério Caruso, ressaltou que o estado é estratégico para o país por sua história, povo e economia. Deu ênfase à importância da recriação da Câmara de Comércio da Itália no estado, que irá contribuir na consolidação de novos negócios e na formação do sistema italiano, e à participação exitosa do consulado na Expointer. "O resultado obtido nestes últimos três anos no consulado está sendo positivo, com o apoio e parceria da comunidade, por meio das associações, e organizações públicas", comentou. Confirmou para segunda-feira o início das obras da nova sede do consulado, com estimativa de entrega para seis meses.