Uma operação realizada pelo Ministério Público e pela Polícia Civil na manhã desta quinta-feira (4) em Canoas, na Região Metropolitana de Porto Alegre, tem como principal alvo a ex-secretária da causa animal do município, Paula Lopes. A ação, batizada de Operação Carrasco, cumpriu seis mandados de busca e apreensão em Canoas, Porto Alegre e Arroio dos Ratos. A suspeita responde a acusações de eutanásia indiscriminada de animais, maus-tratos e estelionato.
De acordo com a delegada Luciane Bertoletti, da 3ª Delegacia de Polícia de Canoas, as investigações duram oito meses e tiveram início após denúncias de funcionários e protetores de animais. Testemunhas relataram que Paula teria sacrificado de 15 a 30 cães e gatos por semana, muitas vezes em condições precárias e sem indicação clínica que justificasse o procedimento.
Durante a operação, policiais encontraram 14 animais mortos armazenados em sacos plásticos dentro de um freezer na sede da secretaria. No local também havia um container fechado e sem ventilação, onde diversos gatos eram mantidos em gaiolas, sem acesso adequado a higiene.
Ainda segundo a polícia, Paula teria realizado ao menos 239 eutanásias em oito meses e usava injeções para executar os animais, prática considerada mais barata do que oferecer tratamento.
As denúncias também apontam indícios de estelionato. Paula é fundadora do Instituto Paula Lopes, ONG dedicada ao resgate de animais. Segundo a investigação, ela utilizava a chave Pix da instituição para arrecadar doações destinadas a campanhas de acolhimento e tratamento, mas parte dos valores teria sido desviada. Na residência da ex-secretária, foram apreendidos cerca de R$ 100 mil em espécie.
Nas redes sociais, Paula confirmou que sua casa foi alvo da operação e que o celular foi apreendido. Em vídeo publicado no Facebook, ela se defendeu das acusações: “Isso é só mais um reflexo do que a política faz. O meu único objetivo vai ser sempre ajudar os animais”, afirmou.
Paula disse ainda que já foi alvo de outras denúncias do Ministério Público, que não prosperaram, e que seu trabalho “incomoda” determinadas pessoas. Prometeu divulgar “as verdades disso tudo” nos próximos dias.
A Prefeitura de Canoas emitiu nota afirmando receber “com indignação” as denúncias e garantiu colaborar integralmente com as investigações. A administração municipal também abriu um expediente interno para apurar responsabilidades e reforçou que o cuidado com os animais sempre foi tratado como prioridade.
Ativista da causa animal há mais de duas décadas, Paula fundou, no ano 2000, o Projeto Adoradores de Vira-Latas. Em 2018, criou a Associação Nacional Instituto Paula Lopes, instituição que mantém até hoje. Em janeiro deste ano, assumiu a secretaria da causa animal em Canoas, mas foi exonerada em agosto, a pedido próprio, conforme publicado em Diário Oficial.
Seu nome, entretanto, ainda consta como secretária no site da prefeitura. Nas redes sociais, ela se apresenta como empresária e protetora de animais, publicando vídeos de resgates de cães em más condições. Paula também ganhou notoriedade pela atuação durante a enchente que atingiu Canoas em 2024.
O caso segue sob investigação da Polícia Civil e do Ministério Público, com apoio do Instituto-Geral de Perícias (IGP) e de ONGs de proteção animal. Os bichos resgatados foram encaminhados a locais seguros. Paula poderá responder por maus-tratos, estelionato e improbidade administrativa, crimes que podem resultar em penas severas e perda de direitos políticos.