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Com a retomada das atividades, cães podem sofrer com o distanciamento dos seus donos

Após um longo período de convivência com seus tutores, por conta da pandemia, cães que precisam ficar sozinhos em casa podem sofrer quadros de ansiedade por separação.

11/06/2021 às 13h45 Atualizada em 11/06/2021 às 16h02
Por: Kevin Sganzerla Fonte: NB Notícias
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Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

De forma gradativa, a população está retornando às atividades presenciais e as crianças e adolescentes estão voltando às aulas. Após mais de um ano com seus tutores em casa, seja em home office, seja pela impossibilidade de trabalho ou aulas de forma presencial, os cães criaram um vínculo ainda mais forte com seus donos. A quebra dessa rotina, neste momento, deixando os animais de estimação em casa e sozinhos pode acarretar em consequências, sobretudo aos cães. 

Essa é uma das principais preocupações levantadas por veterinários comportamentalistas no atual cenário de pandemia. De acordo com o médico veterinário comportamentalista Ricardo Fontão de Pauli, responsável pela Comporvet, atenta que o fato de os cães ficarem sozinhos em casa após um longo período de convivência com seus donos pode gerar problemas ao animal como, por exemplo, quadros de ansiedade. “Os animais estão ficando muito tempo junto com seus tutores, e a provável consequência disso será um número muito alto de ansiedade por separação nos cães pós-pandemia”, afirma. 

De acordo com o médico veterinário, quadros de ansiedade por separação são, de longe, a principal consequência que pode acarretar aos cães neste momento em que precisam ficar sozinhos, seja em casa ou em apartamento. 

“Como o próprio nome descreve, é um quadro de ansiedade que é um transtorno mental e comportamental, que gera bastante sofrimento ao animal, o qual fica antecipando exageradamente o retorno do tutor para casa nos períodos de ausência. Isso ocorre porque durante a pandemia os tutores estão ficando muito tempo em casa com os animais, e eles criam um vínculo cada vez maior com os seus donos”, pondera. 

Ricardo afirma que os atendimentos cresceram em decorrência de quadros de crises de ansiedade

Segundo Ricardo, a ansiedade gera, além do quadro de sofrimento mental, alterações psicossomáticas ao animal, ou seja, alterações comportamentais e físicas. “Gera aumento da frequência cardíaca e da frequência respiratória. Com cães cardiopatas pode gerar a indução de quadros de descompensação cardíaca. Gera também aumento da salivação, muitas vezes micção e defecção fora do local não intencional do cão. Além disso a ansiedade pode provocar diminuição de apetite, o que pode provocar diversas outras consequências físicas para o animal.”, explica. 

O número de atendimentos em sua clínica, por conta de quadros de ansiedade, tem aumentando significativamente nos últimos meses. Ricardo cita casos, inclusive, de cães que tentaram realizar fugas e que acabaram se ferindo. Em um dos casos, por exemplo, o cão se jogou do segundo andar na tentativa de sair de uma situação de extrema ansiedade. 

“Ele vai realizar muitas tentativas de fuga desses locais onde ele está confinado. Em casas e apartamentos, o cachorro fica raspando a porta para tentar sair. O cachorro acaba destruindo alguns objetos da casa, é um dano para o animal, pois raspando a porta ele pode se machucar, e muitas vezes, na tentativa de fugir dessas situações o cachorro pode se ferir seriamente”, relata. 

Durante a pandemia, muitas pessoas adquiriram animais de estimação para ter uma companhia segura no período de confinamento. Agora, com a ausência de seus donos em casa, esses pets podem sofrer ainda mais consequências em se manter sozinhos. “Eles não tiveram uma socialização adequada no período inicial de vida, que sabemos que é extremamente importante para um cão ou para o gato, mas também não tiveram uma habituação aos períodos de distanciamento dos tutores gradativamente ao longo da sua vida. Então certamente esses animais vão sofrer muito mais”, ressalta o médico veterinário. 

E os gatos?

Conforme Ricardo, os gatos costumam ter mais problemas durante o isolamento social, quando os seus tutores estão ficando mais tempo em casa, em convívio com eles. “Os gatos costumam ser mais apegados com a rotina e a presença e a mudança da rotina ou do ambiente muitas vezes acabam estressando mais esses animais”, afirma o médico veterinário, que complementa:

“O cão sofrerá após o isolamento social, no retorno das atividades, enquanto que os gatos estão sofrendo agora durante a permanência prolongada dos tutores em casa, o que acaba aumentando o conflito com essa espécie especificamente”, explica. 

Dicas para evitar consequências negativas ao animal ao deixá-lo sozinho em casa

Durante o período que os donos estiverem em casa, a dica principal que o especialista em comportamento animal oferece é tentar criar uma certa independência do animal, fazendo com que ele não tenha que ficar 24 horas junto com o seu tutor. 

Para isso, os donos podem utilizar um portãozinho pet em uma porta para separar o ambiente de trabalho em casa, ou o quarto, por exemplo. “Isso serve para que o cachorro fique do lado de fora desse cômodo, mas que consiga ver o seu tutor e sentir a presença dele e, consequentemente, não vai sofrer tanto com esse distanciamento físico. Também é recomendável sempre deixar um petisco ou um brinquedo para que o cachorro fique se distraindo e se entretendo e, assim, tendo memórias e associações positivas desse distanciamento”, comenta. 

Essas ações, segundo Ricardo, vão fazer com que o cachorro gradativamente não sofra tanto com o distanciamento quando for necessária a ausência do tutor na residência ou apartamento. Além disso, o especialista afirma que, muitas vezes, se faz necessário a utilização de feromônios e o aumento de passeios. 

Procura por serviços de creche, hospedagem e adestramento tendem a crescer

Os animais de estimação, que antes estavam muito próximos aos seus donos no período de pandemia, terão que se adaptar a ficar sozinhos em casa. Por conta disso, a procura por creches e serviços de hospedagem tende a crescer cada vez mais, conforme o proprietário da Blú, Rafael Geremia, cujo negócio presta serviços de adestramento, creche e hospedagem em Bento Gonçalves.

De acordo com o adestrador profissional, grande parte dos cães que são atendidos no local estavam confinados com seus donos durante um expressivo período, devido à pandemia. Agora, com o retorno gradativo da rotina normal das pessoas, há a necessidade de uma atenção especial ao comportamento dos animais de estimação. 

Rafael Geremia afirma que a procura por vagas na cresche só tendem a aumentar / Foto: Kévin Sganzerla

Com base nisso, Rafael Geremia e os demais sócios viram a oportunidade de abrir o negócio, que iniciou em dezembro de 2020, para atender a esses “cães de pandemia”, como cita. “A maioria das pessoas que compraram cachorros na pandemia não tem noção do problema que terá posterior à pandemia. O cachorro vivendo praticamente um ano com os donos e serem obrigados a ficar sozinhos em casa vai criar quadros de ansiedade pela separação. Eles vão latir, vão começar a morder todos os móveis, e podem entrar em depressão”, afirma. 

Tal fato levou muitas pessoas a procurarem o serviço para socializar os seus pets, os quais, no local, podem gastar energia. Com o retorno das aulas presenciais nas escolas e com a abertura de mais segmentos da economia, a tendência, segundo Rafael, é que o negócio cresça cada vez mais. “A tendência é só aumentar. O pessoal está mais consciente da importância dos cuidados e do bem-estar do animal”, relata. 

Atualmente, a creche conta com 20 a 25 cães por dia, com pouquíssimas vagas ainda disponíveis. Segundo o sócio-proprietário, durante as férias, entre creche e serviços de hospedagem, o local contou com, em média, 50 cães por dia. 

O que fazer quando o animal sofre mudanças radicais em seu comportamento

De acordo com o médico veterinário comportamentalista Ricardo Fontão de Pauli, a creche pode ser uma boa saída, pois aumenta as atividades para o cão, no entanto ela não trata um quadro de ansiedade por separação. “Na permanência em uma creche, o cão está junto com outros animais e outras pessoas, o que faz com que ele não aprenda a ficar isolado ou longe de outros indivíduos. Certamente quando o tutor tiver que se ausentar de casa e o cão não puder frequentar a creche, ele vai sofrer da mesma forma”, explica. 

Segundo Ricardo, quando há mudanças radicais no comportamento do animal de estimação, o melhor a se fazer é buscar a ajuda de um profissional, sobretudo, um especialista no assunto.

“Da mesma forma como em humanos, quando sofremos de algum transtorno mental ou tem algum sofrimento psicológico, observo que as pessoas, como procuram um psicólogo, ou psiquiatra nesses casos, comecem a ter mais o hábito de procurar veterinários especialistas em comportamento, ou algum terapeuta comportamental para auxiliar nesses quadros. Qualquer tipo de mudança de comportamento ou sofrimento animal que chamem a atenção do tutor e, muitas vezes, até do veterinário, que não tem conhecimento da área, é importante que seja buscado um veterinário especialista no assunto”, destaca Ricardo. 

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