
O fechamento repentino de um acesso histórico à BR-470, na localidade do Borghetto, em Garibaldi, desencadeou uma forte polêmica entre empresários, moradores e autoridades públicas. O bloqueio, realizado pela concessionária Caminhos da Serra Gaúcha (CSG) há cerca de 15 dias, afetou diretamente empresas instaladas às margens da rodovia, que perderam seu principal ponto de entrada e saída. Até agora, nenhuma instituição assume integralmente a responsabilidade pela decisão — gerando o que comerciantes definem como um verdadeiro “jogo de empurra”.
A situação tem causado prejuízos logísticos e econômicos, como relata Aline Faccenda, 26 anos, sócia da Serra Tratores, uma das empresas mais prejudicadas. Ela afirma que o acesso existe há mais de 60 anos, e que o fechamento ocorreu sem aviso prévio, consulta ou sinalização adequada aos usuários. “Simplesmente ouvimos as máquinas trabalhando. Quando fomos ver, havia uma vala bloqueando a saída. Ninguém nos comunicou nada”, desabafa Aline .
O ponto fechado fica ao lado da vinícola Maison Forestier e era utilizado diariamente por caminhões e clientes. Sem ele, empresas precisam usar um acesso alternativo pela rótula de entroncamento com a RSC-453, descrito como longo, precário, escuro e sem sinalização. “Está cheio de buracos e é perigoso, principalmente à noite”, relata a empresária. Segundo ela, até clientes têm desistido de visitar a empresa para evitar a volta longa até o trevo da Telasul.
Os empresários afirmam que o bloqueio não apenas dificultou o deslocamento, mas também aumentou o risco de acidentes. “Em cinco anos que estou aqui, nunca houve acidentes graves nesse acesso. Na rótula, já teve até morte”, diz Aline, reforçando que a mudança prejudica a segurança e pode comprometer investimentos recentes, como a ampliação do pavilhão da empresa .
Procurada pelo NB Notícias, a Prefeitura de Garibaldi afirmou que a responsabilidade é da concessionária CSG, já que o acesso estaria dentro da faixa de domínio da administradora da rodovia.
A CSG, por sua vez, confirmou que realizou o fechamento — mas “a mando do Governo do Estado”, afirmando que a ação partiu de uma notificação formal solicitando a regularização de um “acesso irregular”. A concessionária diz ainda que houve “prévia combinação com a Prefeitura”, que estaria desenvolvendo com ela um projeto de implantação de uma nova via marginal no local. Em nota, a empresa assegura que os usuários têm “alternativa de circulação regular” disponível, embora mais longa e de pior qualidade .
A reportagem também buscou a Secretaria Estadual da Reconstrução, responsável pelo trecho e pela concessão. Até o fechamento desta reportagem, não houve retorno.
Para quem depende do acesso no dia a dia, o maior incômodo não é apenas o bloqueio em si — mas a completa ausência de diálogo e transparência.
“O motivo não teve justificativa. É isso que deixa a gente mais chateado. A prefeitura joga para a CSG. A CSG joga para a prefeitura”, lamenta Aline, que afirma estar sem respostas e sem previsão de solução. Segundo ela, há rumores de um projeto de via paralela — mas sem qualquer confirmação ou cronograma: “Quanto tempo isso vai demorar? Dez anos?”.
Para os empreendedores locais, o episódio demonstra descaso público e a falta de um canal de comunicação claro, em um momento em que a região ainda enfrenta reflexos das obras e interdições da BR-470.
O fechamento inesperado reforçou a percepção de que, fora dos períodos eleitorais, as demandas da comunidade ficam em segundo plano. “O mais cruel é o tratamento dispensado ao contribuinte. A transparência e o diálogo deveriam ser o mínimo esperado”, conclui o relato do documento analisado pela reportagem .