O prefeito de Bento Gonçalves, Diogo Segabinazzi Siqueira, promoveu um vídeo no qual defende a instalação de um memorial em homenagem ao general Ernesto Geisel, presidente da república entre 1974 e 1979. A gravação, compartilhada em suas redes sociais, foi feita após a recomendação do Ministério Público Federal (MPF) recomendar o encerramento do Memorial em homenagem à Geisel, que está instalado na biblioteca da UCS Carvi. A posição do político reacendeu o debate sobre o legado controverso de Geisel e a responsabilidade do município em preservar ou criticar esse capítulo da história nacional. Em pouco mais de uma hora, a postagem já tinha mais de 180 comentários.
No vídeo, o prefeito Siqueira afirma que a homenagem ao ex-presidente “é uma forma de valorizar a história de Bento Gonçalves e um homem que ajudou o país a passar por um processo de transição democrática”. Ele ressalta ainda que Geisel é o único cidadão bento-gonçalvense a chegar à presidência do país. “O que não pode acontecer é uma idolatria de feitos errados ou então tentar apagar a história dessa pessoa”, destacou o prefeito.
Ver essa foto no InstagramUma publicação compartilhada por Diogo Segabinazzi Siqueira (@diogosegabinazzisiqueira)
Diogo Siqueira lembra que o memorial fala das conquistas no período do governo Geisel, como a energia limpa com o Pró-Álcool e a construção de novas barragens e hidrelétricas. "Talvez isso sejam pautas progressistas e não de um período que é lembrado como uma ditadura. Como prefeito, é meu dever preservar a história de pessoas importantes principalmente no nosso município. Vou fazer o possível de manter esse memorial em nossa cidade. Precisamos aprender com os erros e acertos ocorridos naquela época", destacou o prefeito.
Ernesto Geisel, natural de Bento Gonçalves, liderou o regime militar brasileiro em seu período de abertura lenta (chamado à época de “distensão”) e é recordado por dois polos distintos:
Por um lado, o presidente autorizou o início da abertura política e diversos avanços na matriz energética, como a expansão do programa energético e autonomia brasileira no setor nuclear.
Por outro lado, o governo Geisel é alvo de críticas por sua atuação durante a ditadura militar, acusada de autorizar perseguições políticas, prisões arbitrárias e mortes de opositores — investigações apontam ao menos 54 pessoas mortas ou desaparecidas no período.
A declaração do chefe do Executivo municipal gerou manifestações de apoio e protestos nas redes e na sociedade civil. Enquanto parte da comunidade defende a valorização de uma figura histórica local, grupos de direitos humanos e historiadores alertam para a importância de não ignorar os atos autoritários do regime e a responsabilidade de preservar a memória das vítimas.
O episódio impõe dilemas aos gestores públicos de Bento Gonçalves:
Como equilibrar a valorização da história local com o reconhecimento crítico das violações de direitos durante a ditadura?
A homenagem a Geisel deve vir acompanhada de iniciativas educativas e de memória, ou corre o risco de servir apenas como exaltação simbólica?
Qual é o papel das instituições — escola, museus, ONGs — na construção de uma narrativa plural sobre o período?
O vídeo do prefeito Diogo Siqueira reacende a discussão sobre a relação entre identidade local e história nacional em Bento Gonçalves. A memória de Ernesto Geisel permanece marcada por sua condição de pioneiro político e ao mesmo tempo por controvérsias que não podem ser silenciadas. A cidade, ao homenagear o ex-presidente, enfrenta agora o desafio de fazê-lo com responsabilidade histórica, equilíbrio e transparência.