Política Eleições 2024
Mudança no cálculo do Quociente Eleitoral vai mudar corrida pela Câmara de Bento
De acordo com as novas normas, apenas partidos que atingirem pelo menos 80% do Quociente Eleitoral terão o direito de participar do cálculo das vagas remanescentes.
05/10/2024 15h11 Atualizada há 1 ano
Por: Marcelo Dargelio

As eleições municipais deste ano trarão uma mudança significativa no cálculo das sobras de vaga para a distribuição de cadeiras nos legislativos municipais. Com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), em fevereiro, novas regras para o cálculo do Quociente Eleitoral passaram a vigorar, estabelecendo critérios mais rigorosos para a participação dos partidos nas sobras das vagas.

De acordo com as novas normas, apenas partidos que atingirem pelo menos 80% do Quociente Eleitoral terão o direito de participar do cálculo das vagas remanescentes. Além disso, os candidatos precisam alcançar ao menos 20% desse quociente para serem considerados elegíveis na disputa pelas sobras. Essa mudança visa reforçar a representatividade dos partidos e dos candidatos que obtiverem uma votação mais significativa, evitando que partidos com desempenho muito aquém possam conquistar cadeiras de forma desproporcional.

O processo para a distribuição das sobras de vaga, no entanto, mantém o mesmo cálculo do chamado "Quociente Partidário". Após determinar o número de vagas conquistadas diretamente pelos partidos, o cálculo das sobras considera a média da legenda, somando o número de cadeiras obtidas inicialmente mais um, e dividindo o total pelos votos válidos da legenda. O partido com a maior média obtida ganha a vaga restante. Esse cálculo se repete até que todas as cadeiras sejam preenchidas.

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Em caso de não haver mais partidos que atendam aos novos critérios de participação, ou seja, que não atinjam os 80% do Quociente Eleitoral, o cálculo passa a considerar todos os partidos e federações na disputa pelas vagas restantes, respeitando a lógica da maior média. Com isso, há uma redefinição entre todas as legendas envolvidas, de acordo com suas respectivas médias.

A decisão do STF, aprovada em fevereiro deste ano, teve como principal objetivo aprimorar a representatividade e a qualidade da disputa eleitoral no país, buscando garantir que somente partidos e candidatos com maior apoio popular tenham acesso às vagas legislativas. Segundo especialistas, essa mudança pode diminuir a fragmentação partidária, uma característica marcante do sistema eleitoral brasileiro, que frequentemente distribui cadeiras a partidos menores que, por sua baixa votação, não possuem ampla representatividade.

O Supremo justificou a mudança alegando que a antiga regra permitia uma pulverização excessiva do poder legislativo, com partidos obtendo cadeiras apesar de uma expressiva falta de votos, o que comprometia a governabilidade e a formação de maiorias consistentes. O novo critério, por outro lado, tende a favorecer partidos com maior representatividade, incentivando a concentração de votos em menos partidos e a busca por alianças e federações.

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Entretanto, a mudança também foi alvo de críticas. Alguns argumentam que isso pode restringir a entrada de novas forças políticas e dificultar a renovação do cenário político, beneficiando partidos maiores e já estabelecidos. A exigência de 20% do Quociente Eleitoral para candidatos também pode representar um obstáculo significativo para novas lideranças e grupos minoritários.

Para as eleições municipais, a mudança alterou as estratégias dos partidos políticos. Muitos partidos concentraram-se em buscar uma votação mais coesa e em estabelecer alianças para tentar atingir o percentual mínimo e garantir participação no cálculo das sobras. Além disso, a formação de federações partidárias — um mecanismo que permite a união de partidos de forma mais sólida do que coligações tradicionais — tornou-se uma ferramenta estratégica fundamental para que as legendas menores não fiquem de fora do processo.

A nova regra promete impactar a forma como o eleitorado será mobilizado e como os partidos se organizarão para alcançar maior competitividade. O objetivo do STF é dar mais estabilidade ao sistema eleitoral, buscando uma representatividade condizente com a vontade popular e, ao mesmo tempo, reduzindo a fragmentação que muitas vezes dificulta o funcionamento das câmaras legislativas.

Com as novas regras para o cálculo do Quociente Eleitoral, as eleições municipais de 2024 entrarão para a história como uma etapa de transição importante para o sistema político brasileiro. O foco em garantir maior representatividade para os partidos e candidatos com votações mais expressivas pode trazer benefícios em termos de governabilidade e consistência das casas legislativas. No entanto, também representa desafios para a inclusão de novas forças políticas, exigindo dos partidos uma adaptação rápida e eficaz para garantir seu lugar no processo eleitoral e na representação pública. 

Para os eleitores, resta observar como essa mudança afetará a composição do legislativo e se, de fato, resultará em uma maior coerência entre os votos depositados nas urnas e a representatividade conquistada.