Rio Grande do Sul Segurança Pública
Motoboy é esfaqueado, chama a Brigada Militar e acaba algemado e preso
Caso ocorreu na tarde deste sábado, 17, e testemunhas falam em ato de racismo por parte dos policiais contra motoboy, que é negro.
17/02/2024 23h11 Atualizada há 3 meses
Por: Marcelo Dargelio Fonte: Secom RS
Motoboy Everton da Silva foi algemado e colocado no camburão, enquanto seu agressor (ao fundo sem camisa) foi apenas conduzido pelos policiais - Foto: Renato Levin Borges / Arquivo Pessoal

Uma discussão que se tornou violenta em um bairro de classe média/alta de Porto Alegre está gerando ampla repercussão nas redes sociais e chamando a atenção para possíveis questões de racismo e conduta policial. O incidente ocorreu na tarde de sábado, 17 de fevereiro, quando Everton Henrique Goandete da Silva, um motoboy negro de 40 anos, foi levemente ferido com uma faca por um homem branco e grisalho durante um desentendimento. A situação se complicou quando a polícia, chamada ao local pelo motoboy, deteve Everton por desacato à autoridade, além de conduzir o homem armado com a faca.

O fato aconteceu na rua Miguel Tostes, no bairro Rio Branco, próximo ao meio-dia. Segundo testemunhas, o homem branco, que não teve seu nome divulgado pelas autoridades, é conhecido na região por suas frequentes reclamações sobre a aglomeração de motoboys nas proximidades de seu prédio. Durante a discussão, ele atacou Everton da Silva com uma faca, causando-lhe um corte superficial no pescoço. A chegada da Brigada Militar, do 9º Batalhão, foi registrada em vídeo por Leandro da Silva Magalhães, colega de Everton, que mostrou a abordagem policial e a subsequente detenção do motoboy.

Apesar do ato de agressão, o foco da polícia se voltou para Everton, que foi considerado agressivo e detido por desacato. Três policiais foram para cima do motoboy para prendê-lo e algemá-lo, em meio aos protestos da população.  O agressor foi detido apenas após intervenção subsequente dos policiais, que permitiram que ele se vestisse antes de ser levado para a delegacia. Essa sequência de eventos levantou suspeitas de tratamento diferenciado por parte da polícia, despertando indignação pública e debates sobre racismo.

Marina Medeiros Pombo, psicóloga e membro do Conselho Estadual dos Direitos Humanos, expressou sua preocupação com a possibilidade de racismo na ação policial e anunciou a intenção de solicitar uma investigação sobre o caso. Ambos os envolvidos foram levados à 2ª Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento, onde foram realizados exames de corpo de delito e prestaram depoimento, sendo posteriormente liberados para responder em liberdade.

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A ocorrência foi classificada inicialmente como "vias de fato" pela Polícia Civil, com a Polícia Militar desejando adicionar a acusação de desacato à autoridade. O episódio levanta questões críticas sobre a abordagem policial em conflitos, a segurança pública, e a persistência do racismo na sociedade. A Brigada Militar anunciou a abertura de uma sindicância para investigar o ocorrido, enquanto a comunidade aguarda respostas e ações concretas para abordar as preocupações levantadas por este incidente perturbador.

Confira o vídeo do que aconteceu

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O que diz o governo do estado

Por determinação do governador Eduardo Leite, a Corregedoria da Brigada Militar abriu uma sindicância para apurar as circunstâncias da abordagem de policiais do 9° Batalhão da Brigada Militar em ocorrência no bairro Rio Branco, em Porto Alegre, na manhã deste sábado (17/2), em que dois homens foram conduzidos à 2ª Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento.

Após realizarem depoimentos e perícias, ambos foram liberados. A Polícia Civil registrou dois boletins de ocorrência – um por lesão corporal e outro por abuso de autoridade – e investigará os casos por meio de novos depoimentos de testemunhas e análise das imagens.

O governo do Rio Grande do Sul se compromete a dedicar ao caso uma apuração célere e rigorosa.