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Atingidos por tragédia em barragens ainda cobram justiça e reparação por danos
Para representante da AGU, há condições de fechar acordos ainda neste ano
08/11/2023 11h28
Por: Marcelo Dargelio Fonte: Agência Câmara

Oito anos depois do rompimento da barragem da Samarco em Mariana (MG), ribeirinhos, indígenas e moradores das regiões atingidas pela tragédia estiveram em Brasília para lembrar que o processo de reparação ainda não foi concluído. Eles participaram de seminário promovido pela comissão externa criada na Câmara dos Deputados para a fiscalização dos rompimentos de barragens e repactuação.

O coordenador do Movimento dos Atingidos por Barragens, Joceli Andrioli, criticou o acordo feito após o rompimento da barragem de Brumadinho, em 2019, para indenizar prefeituras e pessoas que sofreram danos. Para ele, não é possível fazer acordo com as empresas sem que haja reparação a todos os atingidos. Para evitar que isso ocorra em Mariana, o movimento lançou a campanha "Revida Mariana: justiça para limpar essa lama".

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"Nós não queremos vingança, mas que se reviva o processo da luta, da esperança e da coragem que os atingidos têm de oito anos depois estarem aqui, de cabeça erguida. A gente tem a certeza de que só perde uma luta quem a abandona”, afirmou. “Nós vamos ter que formular e avançar para que novos crimes não se repitam em nosso país e em outros países", acrescentou.

Repactuação
A repactuação dos acordos é mediada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) desde 2021, diante do fracasso de reparações conduzidas pela Fundação Renova, representante das mineradoras Samarco e Vale.

Renato Araujo/Câmara dos Deputados
Repactuação depende do aceite das empresas

O advogado-geral da União adjunto, Junior Divino Fideles, afirmou que o acordo com as empresas responsáveis pelo rompimento da barragem em Mariana vai depender do aceite das próprias empresas. Segundo ele, a proposta prevê, entre outras exigências, a recuperação do rio Doce, investimento em educação, ciência e tecnologia como forma de compensação ambiental e – o que é considerado o ponto de desacordo até agora – o pagamento de indenizações individuais.

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"Acredito que nós evoluímos bastante ao longo desse um ano, tanto do ponto de vista de construção de consensos como de qualificação da proposta do poder público às empresas e temos, sim, condições de fechar um acordo ainda neste ano”, analisou.

O representante do Ministério do Meio Ambiente, Moara Giasson, disse que a pasta trabalha para que haja reparação ambiental e não apenas financeira na repactuação com as mineradoras. "O ministério tem o compromisso de fazer com que a reparação ocorra e ela é responsabilidade das empresas”, afirmou.

Moats Giasson defendeu ainda que a bacia hidrográfica do rio Doce e a área marinha afetadas sejam recuperadas, dentro do que for tecnicamente possível. “A gente precisa recuperar as APPs (Áreas de Preservação Permanente), tratar e fazer o manejo de rejeitos. O Ministério do Meio Ambiente está trabalhando para que isso seja incluído dentro do novo acordo, assim como está no acordo vigente”.

Política Nacional
O deputado Rogério Correia (PT-MG), que coordena a comissão externa dos rompimentos de barragens, disse estar acompanhando a votação do projeto de lei (PL 2788/19) que cria a política nacional dos atingidos por barragens. O texto já foi aprovado pela Câmara em 2019 e aguarda análise do Senado, onde está pronta para análise em Plenário.

"O projeto vai definir quem são os atingidos por barragens e nós não temos isso em lei e o projeto é abrangente de quem são os atingidos. Ele cria um marco regulatório, porque hoje existem apenas acordos, mas não existe a legislação que diz como será sacramentado o processo daqueles que são atingidos."