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CPI das Pirâmides Financeiras faz novo debate nesta quarta
dimarik/DepositPhotos A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Pirâmides Financeiras realiza nova audiência pública nesta quarta-feira (13)...
13/09/2023 11h25
Por: Marcelo Dargelio Fonte: Agência Câmara de Notícias
Foto: dimarik/DepositPhotos

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Pirâmides Financeiras realiza nova audiência pública nesta quarta-feira (13). Desta vez os deputados vão tentar ouvir representantes da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), da Latam Gateway, do Banco BS2, da Bankly, da Méliuz, da Capitual e da Grow Up Club.

A audiência será realizada no plenário 13 a partir das 14 horas.

A comissão foi instalada em junho e investiga esquemas de pirâmides financeiras com o uso de criptomoedas.

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A pedido do presidente da CPI, deputado Aureo Ribeiro (Solidariedade-RJ), a CBF terá que explicar a emissão de tokens. Segundo ele, em junho de 2021, o site da CBF anunciava a criação da criptomoeda oficial da Seleção Brasileira em parceria com uma empresa turca de blockchain chamada Bitci Technology.

Esse token chegou a valer US$ 1,53 no fim de 2022. No entanto, Ribeiro ressalta que, após a derrota da seleção brasileira na Copa do Mundo e a queda generalizada do mercado de criptoativos, em maio de 2023 o token era negociado a US$ 0,06.

Grow Up Club
Já o deputado Caio Vianna (PSD-RJ) pediu para ouvir a Grow Up Club, empresa sediada em Campos dos Goytacazes (RJ) que dizia ser um consórcio com rendimentos acima do mercado, por meio da locação de criptomoedas.

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"A empresa prometia retornos financeiros significativos provenientes dessas operações, criando a expectativa de lucros elevados e atrativos. No entanto, desde dezembro de 2022, a empresa tem atrasado o pagamento dos seus clientes", afirma Vianna.

Binance
O deputado Alfredo Gaspar (União-AL), por sua vez, sugeriu a oitiva de empresas e instituições financeiras que têm ou tiveram relacionamento comercial com a Binance (maior corretora de criptoativos do mundo): Bankly, Méliuz, Capitual, Banco BS2 e Latam Gateway.

Segundo o parlamentar, a Binance, "atua no Brasil aparentemente se utilizando de um expediente para, grosso modo, maquiar a forma como se relaciona com empresas aqui constituídas e, mais preocupante, com pessoas físicas que em sua plataforma compram e vendem criptoativos".

Em junho de 20222 , continua Gaspar, os saques e depósitos na Binance foram suspensos após exigências feitas pelo Banco Central.

Depoimentos anteriores
A CPI já ouviu sócios da empresa MSK Operações e Investimentos, investigada por lesar cerca de 4.000 clientes que realizaram investimentos em criptomoedas. A empresa disse aos deputados que teria sido surpreendida com um desfalque financeiro executado por um dos funcionários.

No entanto, em depoimento posterior Saulo Gonçalves Roque rebateu a acusação dos fundadores da MSK e afirmou que nunca atuou como operador da empresa, que atualmente está em recuperação judicial.

Por outro lado, a CPI não conseguiu ouvir o depoimento de artistas que fizeram publicidade para a Atlas Quantum. A empresa, que usava Bitcoins em operações financeiras, lesou clientes em R$ 2 bilhões. Os artistas conseguiram habeas corpus para não comparecer à reunião. Em seguida, a comissão quebrou o sigilo dos atores.

A comissão também já ouviu especialistas que afirmaram que a tecnologia usada pelas criptomoedas tem funcionado como um “chamariz” para a prática de crimes como as pirâmides. Eles foram unânimes, no entanto, em dizer que isso nada tem a ver com a tecnologia em si, e sim com a desinformação associada a ela.

O depoimento mais polêmico até agora foi do ex-jogador de futebol Ronaldinho Gaúcho. Depois de ser convocado três vezes ele compareceu ao colegiado, não respondeu à maioria das perguntas e negou ser fundador ou sócio da empresa 18K Ronaldinho, que trabalha com trading e arbitragem de criptomoedas.

A empresa é acusada de não passar a custódia das moedas virtuais a seus clientes, que recebiam a promessa de rendimentos de até 2% ao dia.

"Eles utilizaram indevidamente meu nome para criar a razão social dessa empresa”, afirmou o atleta. Os deputados, no entanto, estranharam o fato de Ronaldinho não ter processado os donos da empresa.

A CPI ouviu também o sócio da Trust Investing, empresa de criptomoedas que ofertava lucros acima da média do mercado, Patrick Abrahão. Ele admitiu ao colegiado ser apenas um dos investidores e entusiasta da empresa.

O colegiado ouviu ainda o diretor de Regulação do Banco Central, Otávio Damaso, sobre a regulação do mercado de criptomoedas no País que deverá ser concluída até o 1º semestre de 2024.

Segundo ele, o banco vem debatendo o tema com diversos setores e espera colocar uma proposta em consulta pública até o final do ano.

O coordenador-geral de Articulação Institucional do Departamento de Recuperação de Ativos do Ministério da Justiça, Edson Garutti, por sua vezm sugeriu à CPI uma definição específica para o crime de pirâmide financeira na Lei dos Crimes contra a Ordem Econômica.

O delegado da Polícia Federal Adolfo Humberto e o promotor de Justiça do Ministério Público de Minas Gerais Eduardo Machado, que também defenderam a criação do tipo penal específico.

O representante da associação Zetta, criada por empresas de tecnologia com atuação no setor financeiro e de meios de pagamentos, no entanto, disse aos parlamentares que as plataformas que atuam com moedas digitais já obedecem a várias regras aplicadas aos bancos tradicionais.

Segundo Karen Duque, diretora da associação, são observadas leis sobre proteção do consumidor, contra a lavagem de dinheiro e o terrorismo, proteção de dados e prevenção a fraudes.

A audiência mais longa da CPI durou quase 16 horas e ouviu 10 pessoas ligadas à 123milhas. Em agosto passado a empresa anunciou a suspensão da emissão de passagens já compradas pelos consumidores, o que afeta viagens já contratadas com embarques previstos para o período de setembro a dezembro deste ano. Posteriormente, a companhia pediu recuperação judicial.

Um dos donos da 123milhas, Ramiro Madureira, se defendeu e disse que a empresa teve que suspender a emissão de passagens aéreas da linha promocional, iniciada em abril de 2022, porque os preços das passagens não se comportaram conforme o previsto.

O último depoimento foi de Mateus Muller, ex-investidor da Atlas Quantum. Ele fez diversas denúncias contra a empresa – inclusive, de financiar campanhas eleitorais, o que é ilegal.