Geral Situações diferentes
Casos análogo à escravidão passam batidos no Festival Lollapalooza
Ao contrário do que aconteceu com as vinícolas da Serra Gaúcha, festival seguiu normalmente, como se nada tivesse acontecido, e ainda teve mais 800 trabalhadores mantidos irregularmente atuando no local.
27/03/2023 10h18
Por: Marcelo Dargelio

Após o massacre midiático sofrido pelas vinícolas Aurora, Garibaldi e Salton no caso dos trabalhadores resgatados em situação análoga à escravidão, em Bento Gonçalves, um fato na semana passada chamou a atenção. Passou despercebido o resgate de cinco trabalhadores mantidos trabalhando mais de 12 horas por dias e tendo que dormir em papelões e paletes no Festival Lollapalooza, em virtude da grandeza do evento. E, apesar de rapidamente providenciar a troca da empresa terceirizada, a Time for Fun (T4F), dona do Lollapalooza no Brasil, viu novos problemas ocorrerem, com mais de 800 trabalhadores sendo mantidos ativos por mais de 12 horas seguidas, sem o descanso devido e sem o pagamento de horas extras.

Em uma fiscalização realizada na terça-feira, 21 de março, no Autódromo de Interlagos, local onde ocorreu o festival, o Ministério do Trabalho e Emprego encontrou cinco trabalhadores terceirizados que prestavam serviços para o evento em situação precária. Os profissionais trabalhavam para a Yellow Stripe, terceirizada responsável pela opeação dos bares, informou a Time for Fun (T4F). Os trabalhadores, em regime informal, faziam dupla jornada. Durante o dia, em jornadas de doze horas, carregavam caixas de bebidas. À noite, tinham que vigiar as cargas, sendo obrigados a dormir numa tenda no autódromo – no chão ou sobre palletes das bebidas ou colchonetes que tiveram que trazer de suas casas.

Pressionada pelos patrocinadores, a Time for Fun (T4F) encerrou o contrato com a empresa Yellow Stripe e contratou a terceirizada Team eventos. Porém, em uma nova fiscalização do Ministério do Trabalho, realizada na sexta-feira, 24, constatou que mais de 800 funcionários dos bares do Lollapalooza, responsáveis por entregar as bebidas aos mais de 100 mil frequentadores diários do evento, estavam com seus direitos trabalhistas “gravemente violados”. Entre as irregularidades constatadas, o Ministério do Trabalho identificou que os trabalhadores tinham jornadas irregulares de 12 horas, sem remuneração por hora extra e sem o descanso adequado previsto em lei. Além disso, tinham o valor do exame médico admissional descontado de seu salário e não recebiam vale transporte.

Em nota, a Team Eventos informou que “em menos de 24 horas teve que mobilizar grande contingente de pessoal e promover ajustes em nossa operação a fim de realizar o serviço”, e disse estar “trabalhando nas adequações cabíveis”. Já a Time for Fun (T4F), dona do Lollapalooza no Brasil, disse que solicitou “imediata regularização” dos direitos trabalhistas e “o encaminhamento das comprovações” por parte da terceirizada. “Temos firme compromisso com o respeito às pessoas e à legislação”, complementa a nota.

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A Team Eventos havia combinado com os trabalhadores o pagamento de diárias de R$ 160 e jornadas de doze horas, sem o pagamento das quatro horas extras adicionais ao turno regular, de 8 horas. Além desse problema, de acordo com a legislação, é obrigatória uma folga de 36 horas após essa jornada estendida, mas os trabalhadores do Lollapalooza tinham direito a um descanso inferior a 11 horas depois de cada dia de trabalho.

O Lollapalooza começou na sexta-feira, 24, com um público estimado em 103 mil pessoas, e foi até domingo (26). O ingresso para um dia de evento custava R$ 1.300, mas pacotes luxuosos chegavam a R$ 5.300, e garantiam os três dias de shows e acesso às áreas VIPs, com cadeira de massagem e outros benefícios. Dentre as atrações deste ano estavam grandes nomes da música, como Billie Eilish, Lil Nas X e Drake.

Em 2019, a empresa Time 4 Fun já havia sido denunciada por casos de trabalho análogo à escravidão envolvendo a montagem dos palcos para shows. Trabalhadores eram submetidos a várias horas de atividade intensa e poucas horas de descanso, a fim de dar conta da montagem de todos os palcos em tempo hábil determinado pela produtora do evento.

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Leia a íntegra dos posicionamentos das empresas:

Team Eventos

A propósito dos questionamentos , esclarecemos :

1 -Fomos contratados em caráter emergencial no dia 22/03/2023 , em função do rompimento de contrato com a antiga prestadora de serviço

2- Em menos de 24 horas tivemos que mobilizar grande contingente de pessoal e promover ajustes em nossa operação a fim de realizar o serviço

3 – Já no dia 24/03/2023 , no inicio da nossa operação fomos submetidos a processos de inspeção por parte do Ministério do Trabalho. Em respeito as determinações apresentadas , estamos trabalhando nas adequações cabíveis

Time for Fun (T4F)

A Time for Fun tem firme compromisso com o respeito às pessoas e à legislação. Nossa conduta empresarial está expressa em normativos que são divulgados para nossos públicos de relacionamento, dentre os quais colaboradores, fornecedores e prestadores de serviço. Por isso, logo que chegou ao nosso conhecimento as determinações do Ministério do Trabalho com relação a uma de nossas prestadoras de serviço, solicitamos a imediata regularização e o encaminhamento das comprovações.