Tecnologia Tecnologia na saúde
ChatGPT surge como candidato a ser o novo ‘médico da família’
Sistema movimenta hospitais, médicos e instituições ao apresentar potencial de uso com pacientes. Tecnologia pode mudar o sistema de saúde para sempre.
26/03/2023 08h23
Por: Marcelo Dargelio

O sistema de saúde pode sofrer uma nova mudança em relação ao formato que conhecemos. Nos últimos 25 anos, a comunidade médica precisou aprender a conviver com o “Dr. Google”, graças ao papel que a ferramenta de buscas da gigante da tecnologia assumiu no esclarecimento de dúvidas de saúde. Agora, médicos, hospitais, pesquisadores e startups se preparam para a chegada de um substituto que promete ser ainda mais poderoso como “médico da família”: o ChatGPT, o chatbot turbinado por uma poderosa inteligência artificial (IA) da startup americana OpenAI.

O uso de IA na saúde não é exatamente uma novidade - áreas como radiologia, que trabalham com reconhecimento de imagens, já registraram avanços importantes. Hospitais e pesquisadores também pesquisam há anos maneiras de introduzir a tecnologia na rotina de médicos, pacientes e instituições - a ideia é que possam salvar vidas e trazer benefícios econômicos. Por exemplo: a ONG americana National Bureau of Economic Research estima que a ampla adoção de sistemas de IA pode fazer os EUA economizarem entre 5% e 10% do gasto anual em saúde - algo entre US$ 200 bilhões e US$ 360 bilhões.

Porém, o chatbot “esperto” da OpenAI jogou nova luz sobre a tecnologia, o que vem movimentando o mundo da saúde e forçando a comunidade médica a compreender o que fazer com a ferramenta. A julgar pelo interesse inicial, será muito difícil em um futuro próximo não frequentar um consultório que não tenha algum sistema do tipo.

Na segunda-feira, 20 de março, a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) promoveu um simpósio sobre o ChatGPT, no qual especialistas de diferentes áreas da instituição apresentaram o potencial da ferramenta. A transmissão gratuita no YouTube chegou a comportar 1,5 mil espectadores simultâneos.

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Entre as possíveis aplicações, parece haver consenso de que esses sistemas serão fundamentais na comunicação médica, algo que nem sempre ocorre da maneira mais suave entre profissionais e pacientes. “O ChatGPT pode comunicar sobre efeitos colaterais e uso de medicamentos, tratar de questões pré-exames e fazer orientações básicas de saúde. Ele pode ser uma unidade de interação básica com o paciente”, afirmou no evento Chao Wen, chefe da disciplina de telemedicina da faculdade.

Embora nos dias atuais muita gente rejeite a comunicação com chatbots básicos (como os de operadora de celular), a sofisticação do ChatGPT na criação de texto pode ter efeito contrário e gerar aproximação. “As pessoas tendem a acreditar mais na máquina quando elas apresentam características antropomórficas”, explica ao Estadão Alexandre Chiavegatto Filho, diretor do Laboratório de Big Data e Análise Preditiva em Saúde (Labdaps) da USP.

A relação direta com o médico também pode se beneficiar do chatbot. Com capacidade para gerar texto com destreza, o ChatGPT poderia preencher os prontuários, liberando tempo de consulta para que o profissional possa estabelecer uma relação mais próxima dos pacientes. Esse é um tópico que vem sendo explorado pela startup americana Nuance. Em parceria com a Microsoft, a empresa desenvolveu uma ferramenta do tipo, que utiliza o GPT-4, versão mais recente do “cérebro” do ChatGPT.

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Batizada de Dragon Ambient eXperience Express (DAX), ela identifica as falas das de médicos e pacientes e preenche automaticamente o documento com sintomas e diagnósticos, fazendo um resumo da consulta - ele pode registrar até quatro horas de conversa. Interessados no sistema devem procurar a Nuance, já que o serviço ainda não foi disponibilizado publicamente.

A automatização vai além: “O ChatGPT pode ajudar a preencher os formulários de autorização de planos de saúde, o que também acelera a velocidade de atendimento”, diz Chiavegatto.

Por fim, a comunidade médica já consegue imaginar o ChatGPT como ferramenta para monitorar pacientes à distância, permitindo a gestão e o acompanhamento de tratamentos. Por exemplo, o chatbot poderia servir como lembrete para tomar remédios, além de registrar as ações tomadas pelos pacientes.