Geral Caíram de novo
Após 3 anos de golpes da Indeal e Unick, empresa some com R$ 100 milhões de investidores
Clientes que aplicaram com a LTW Consult não conseguem mais contato com a empresa de consultoria financeira.
04/08/2022 14h57
Por: Marcelo Dargelio Fonte: THE iNTERCEPT
Clientes não conseguem mais reaver o dinheiro investido na LTW Consult

Após 3 anos dos golpes aplicados pelas empresas de criptomoedas Indeal e Unick, que prometiam altos rendimentos a seus investidores, mais um grupo de clientes vive o mesmo drama em 2022. A empresa LTW Consult é acusada de dar um calote de R$ 100 milhões  em seus mais de 1.700 investidores. O caso foi divulgado pelo jornal The Intercept.

Duas delas, ouvidas pelo Intercept, afirmam que fizeram investimentos por meio da LTW mas, desde janeiro de 2022, não conseguem fazer o resgate do dinheiro. As denúncias são ecoadas em grupos no WhatsApp que reúnem dezenas de clientes lesados. No site Reclame Aqui, que registra reclamações de clientes insatisfeitos com o atendimento prestado por empresas, existem mais de 200 queixas contra a LTW, avaliada como “não recomendada”.

Em junho, a Polícia Civil de São Paulo confirmou que instaurou um inquérito, ainda em andamento, para apurar eventuais crimes de associação criminosa, pirâmide financeira, estelionato e apropriação indébita. Já a Polícia Federal de Campinas, que seria a mais próxima de Indaiatuba – onde ficava a sede da LTW –, não quis se pronunciar sobre qualquer diligência. “Não nos manifestamos sobre investigações eventual ou efetivamente em andamento”, afirmou a corporação.

LTW é uma abreviatura de “Leading The Way”, algo como “abrindo o caminho”, em inglês. A relação do cliente com a empresa de investimentos costumava começar no site. Lá, segundo um ex-funcionário, era preciso responder a cerca de 20 perguntas para que um consultor retornasse com um planejamento de vida que poderia tanto ajudar o cliente a sair das dívidas quanto a dar os primeiros passos como investidor.

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A LTW dizia ter como foco “promover educação financeira e ajudar na expansão de capital”. Para isso, alocava o dinheiro dos clientes em investimentos de renda fixa e renda variável, como fundos do tesouro direto e ações em bolsa de valores, respectivamente.

“A LTW pagava fielmente os saques [de quem fazia investimentos]”, relatou Jorge, ex-funcionário da área comercial, responsável pela prospecção de clientes e pela administração do perfil de cada um. Além de integrar o quadro da empresa, ele diz ter convidado amigos e familiares a investir na LTW. “Eu coloquei meu dinheiro lá, a minha mulher colocou, assim como amigos que conheço desde criança, meus familiares. Acreditávamos muito na empresa e nos projetos que estavam acontecendo”.

Proprietário da LTW era considerado confiável

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Filho de uma costureira e de um frentista que vivem em Itaquera, também na zona leste de São Paulo, Luiz Brito era visto como exemplo no mercado financeiro. Ele deu algumas entrevistas contando sua trajetória, dos tempos humildes na infância até as primeiras conquistas como corretor de imóveis. E, para alavancar a LTW, investiu pesado em marketing, fechando parcerias com celebridades como Falcão, jogador de futsal com mais de 8 milhões de seguidores no Instagram.

Luiz Brito (foto menor) está desaparecido e clientes não conseguem mais contato com a empresa LTW Consult

 

A coisa desandou, segundo o ex-funcionário, no final de 2021. Foi quando uma diretoria do escritório de São Paulo deixou a empresa, levando consigo vários clientes. Foi a partir desse momento que os que ficaram na LTW e quiseram resgatar seu dinheiro passaram a ter problemas. “O discurso dos donos da LTW era de que eles precisavam de mais tempo para poder realizar a desalocação de carteira [retirar o dinheiro dos investimentos para tê-lo disponível no caixa] para pagar esses saques. E a primeira coisa que fizeram foi passar o tempo para pagamento dos resgates de sete para 30 dias úteis”.

Jorge conta que os funcionários da área comercial, que não trabalhavam no regime CLT, mas sim como prestadores de serviço, ficaram sem receber ao longo de janeiro, fevereiro e março. “Era uma empresa que parecia que ia se tornar uma nova XP Investimentos, uma nova BTG. Não se vai do céu para o inferno em uma semana. Então, a gente demorou para digerir e ter o entendimento de que algo estranho estava acontecendo”. Até que chegou abril e, de acordo com o funcionário, “começou uma avalanche de ações contra a LTW”.

Situação fora de controle

O advogado Renato Paula Leite, do escritório Inhetta de Oliveira e Leite, atende a 100 investidores que dizem ter sido lesados pela LTW Consult e buscam reaver seu dinheiro na justiça. “O prejuízo estimado, por enquanto, é de R$ 100 milhões”, disse. Ele não soube estimar o número de vítimas, mas relatou ter lido um e-mail de Luiz Brito e sua esposa Caroline Lins Domingues, também sócia de empresas junto ao marido, a um banco no final do ano passado. Na mensagem, era apontada a existência de 1.712 CPFs de investidores na base da empresa.

Depois de pesquisar CNPJs que trazem o nome de Luiz Brito como sócio ou proprietário, Leite passou a desconfiar de irregularidades. “A LTW Consult é uma empresa de consultoria financeira, ou seja, que não estava autorizada a captar dinheiro no mercado nem a operar com recursos de terceiros [caso dos clientes dela]. E, justamente por ser um negócio extremamente simples, eles conseguiram aprovação da Comissão de Valores Mobiliários para operar sem grandes exigências”, explicou o advogado.