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Deputados e ambientalistas criticam instalação de termelétricas no RJ sem estudos ambientais
Alan Rones/Câmara dos Deputados Comissões de Direitos Humanos e de Minas e Energia debateram o assunto Deputados e ambientalistas demonstraram pr...
03/08/2022 19h45
Por: Marcelo Dargelio Fonte: Agência Câmara de Notícias
Comissões de Direitos Humanos e de Minas e Energia debateram o assunto - (Foto: Alan Rones/Câmara dos Deputados)

Deputados e ambientalistas demonstraram preocupação nesta quarta-feira (3), em audiência pública na Câmara dos Deputados, com a possiblidade de instalação de quatro usinas termelétricas flutuantes (em navios) e de linhas de transmissão de energia elétrica sobre as águas da Baía de Sepetiba, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. A principal crítica é a ausência de estudos prévios que avaliem o impacto ambiental do empreendimento.

Para os debatedores, a instalação das termelétricas desconsidera aspectos como a supressão de áreas de mata atlântica, a atividade de pescadores artesanais na região e a fauna local, que conta com o boto cinza, espécie ameaçada de extinção e cuja maior população no estado se concentra na baía.

Professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Helena Bergallo explicou que, ao utilizar a água da própria baía para resfriar suas caldeiras, as temelétricas têm potencial para elevar a temperatura das águas no local em até 15º C, o que, segundo ela, ameaçaria a vida de diversas espécies.

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“Com a metade dos recursos usados para instalar essas impactantes termelétricas flutuantes, governo e empresários poderiam reflorestar áreas e aumentar a recarga da água subterrânea na bacia hidrográfica do Rio Paraíba do Sul e em outras bacias”, defendeu a professora.

“As obras não param e os pescadores estão desesperados”, alertou John Wurdig, representante do Instituto Internacional Arayara, durante o debate promovido pelas comissões de Direitos Humanos e Minorias; e de Minas e Energia.

No final de julho, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) acolheu um pedido do Ministério Público (MPRJ) e suspendeu a instalação das usinas até que um estudo de impacto ambiental seja apresentado, prevendo ainda multa diária de R$ 50 mil por descumprimento.

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“As provas iniciais trazidas ao Ministério Público já evidenciavam que se trata de empreendimento de altíssimo impacto ambiental”, afirmou Jaime Mitropoulos, procurador federal no Rio de Janeiro. “Sendo assim, o mínimo que o poder público deve fazer é exigir o estudo de impacto ambiental da forma mais rigorosa possível. ”

Na decisão, o tribunal considerou contraditório o parecer emitido pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea) – órgão que recebeu delegação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) para licenciar o empreendimento.

O parecer do Inea reconhece que se trata de “empreendimento potencialmente causador de significativo impacto ambiental”, mas dispensa a empresa turca Karpowership (KPS) de apresentar os estudos de impacto ambiental.

Em nota, a KPS informou que não foi notificada oficialmente sobre a decisão judicial e acrescentou que “o projeto cumpriu todos os trâmites do órgão ambiental”, “tem baixo impacto” e está “próximo à subestação de Furnas, facilitando sua conexão ao sistema”.

Os deputados Talíria Petrone (Psol-RJ) e Rodrigo Agostinho (PSB-SP), que sugeriram o debate, criticaram o “tempo recorde” com que o Inea concedeu as licenças para o empreendimento e afirmaram que pretendem comunicar os fatos aos respectivos presidentes das comissões, sugerindo visitas ao local e audiências com autoridades ainda não ouvidas. “O Inea está bastante ausente até agora”, criticou Agostinho.

A deputada, por sua vez, disse que pretende formalizar denúncia à organismos internacionais. “É licença [ambiental] sem consulta às comunidades atingidas, sem estudos ambientais e sem atender ao MPF”, afirmou.