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Debatedores sugerem medidas para combater o assédio sexual de jovens atletas
Billy Boss/Câmara dos Deputados Montrimas defendeu a profissionalização dos "olheiros" O silêncio das vítimas, que deixam de fazer denúncias com ...
19/05/2022 17h46
Por: Marcelo Dargelio Fonte: Agência Câmara de Notícias
Montrimas defendeu a profissionalização dos "olheiros - (Foto: Billy Boss/Câmara dos Deputados)

O silêncio das vítimas, que deixam de fazer denúncias com medo de perder oportunidades, é um dos entraves ao combate do assédio sexual a crianças e adolescentes no esporte.

Em audiência pública sobre o tema na Comissão do Esporte da Câmara nesta quinta-feira (19), os debatedores mostraram que providências como a disponibilização de canais de denúncias e a responsabilização das entidades esportivas podem melhorar a situação.

O ex-goleiro Alexandre Montrimas, que atuou por 20 anos e encerrou a carreira em 2015, já fez palestras em mais de 60 clubes sobre assédio sexual. Ele fala de uma situação recorrente: os “olheiros”, como são chamados os caçadores de talentos que param em cidades pequenas, escolhem os futuros atletas, e as famílias deixam os filhos irem atrás do sonho do sucesso, muitas vezes sem conhecer o histórico dessas pessoas.

Montrimas defende a profissionalização dos olheiros e é taxativo: segundo ele, não existe atleta ou ex-atleta que não tenha passado por uma situação de abuso.

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Luciana Neder criticou a lentidão nas investigações - (Foto: Billy Boss/Câmara dos Deputados)

Pedofilia
Situações de assédio fizeram a atleta Luciana Neder fundar, há dois anos, a Comissão de Direitos das Mulheres no Jiu-Jitsu. Em menos de dois anos, a entidade recebeu 103 denúncias, sendo três de pedofilia. A comissão ampliou a atuação para outras artes marciais, e Luciana afirma que o silenciamento das vítimas também é provocado pela lentidão nas investigações.

“Quando as meninas fazem a denúncia, vão à delegacia, fazem o registro da ocorrência, há uma demora muito grande na solução desses casos. Então, esses treinadores continuam trabalhando e praticando seus crimes de assédio e violência. Enquanto isso, a mulher está afastada temporariamente e até para sempre do esporte”, relatou Luciana Nader.

Atletas invisibilizados
Para o representante do Conselho Federal de Psicologia, Rodrigo Acioli, é importante que as entidades esportivas contem com profissionais especializados para enfrentar a questão do assédio sexual. Ele ressalta que é preciso ter atenção não só com os atletas mais conhecidos, mas também com aqueles que treinam diariamente, mas não chegam às competições mais importantes.

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“Esses também são atletas de grande preocupação, porque muitas vezes estão invisibilizados. Então, o acesso e o cuidado a eles às vezes se tornam um pouquinho mais difícil e às vezes não conseguem ter voz por não estarem nas grandes mídias, por não estarem nos pódios, então eles têm uma dificuldade maior de aparecer”, disse.

Deputado Roberto Alves, que pediu o debate sobre assédio no esporte - (Foto: Billy Boss/Câmara dos Deputados)

Esporte de base
A presidente do Grupo Ginástica Artística Paranaense, Márcia Bueno, pediu aos parlamentares apoio para dotar de mais estrutura os clubes de base, de onde normalmente saem os atletas profissionais. O deputado Roberto Alves (Republicanos-SP), que pediu a realização da audiência, respondeu.

“A preocupação dessa comissão é com os atletas brasileiros. Independente se ele é profissional, se está iniciando agora, se ele é de um pequeno clube ou se ele é da várzea. Enfim, a nossa preocupação é com o atleta brasileiro”, disse o deputado.

A procuradora Luísa Rodrigues apresentou ações do Ministério Público do Trabalho como uma campanha de esclarecimento sobre os direitos dos atletas adolescentes e encontros com as categorias de base dos clubes de futebol. Ela apontou a informação como uma ferramenta importante para combater a violação de direitos no esporte.

“Conscientização sobre o que é o assédio sexual e a importância da educação sexual de crianças e adolescentes, no sentido de que eles entendam e identifiquem as situações de abuso e violência", disse. Ainda segundo ela, por mais difícil que possa parecer, essas crianças e adolescentes muitas vezes, por falta de informação, não entendem o que está acontecendo. "Ficam em dúvida se aquilo é errado ou não é; elas se sentem com culpa, com vergonha e com vergonha e medo de denunciar".

Durante o debate, a representante do Conselho Federal de Educação Física, Elizabeth de Souza, divulgou um folheto chamado “Protegendo o Esporte Contra o Assédio e o Abuso”, produzido pelo Comitê Olímpico Brasileiro, que está disponível na internet. O conselho também recebe denúncias online de assédio sexual no endereço www.confef.org.br.