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"É quase uma tragédia anunciada", relata médica da UPA de Bento Gonçalves
Profissional divulgou relato sobre o que vem acontecendo na unidade e alega que, além do salário baixo, as condições de trabalho não são boas.
14/04/2022 13h10 Atualizada há 4 anos
Por: Marcelo Dargelio

A crise com o trabalho dos médicos na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Bento Gonçalves está chegando a uma situação quase insustentável. Além das dificuldades em atender a população de maneira mínima, os próprios profissionais que ainda estão trabalhando na unidade reclamam dos baixos salários e das condições de trabalho. Uma médica entrou em contato com a reportagem do NB Notícias para fazer um relato do que os profissionais estão vivendo na unidade.

A profissional pediu para não ser identificada, mas destacou que a situação está prestes a sair do controle. Acompanhe abaixo o relato enviado pela médica para o NB.

"Este descaso está ocorrendo há muito tempo, não é de agora. A tendência é somente piorar. A prefeitura e a coordenação são totalmente coniventes com tudo que está acontecendo, o descaso não é somente com a população, é também com os profissionais de saúde.

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Está sim faltando médicos pediatras e de outras áreas também. É quase uma tragédia anunciada o que está acontecendo. Os profissionais estão recebendo em todos os plantões ameaças de agressões, xingamentos e tudo mais... Como atender a demanda que se tem com apenas um ou dois médicos por plantão na maioria das vezes? Como atender pediatria, sem ser especialista na área?   

Isso quando não um único profissional tem que dobrar para não ter abandono de posto e não ficar ninguém, já que muitos estão com medo e estão saindo. Bento é a pior cidade que paga na região. Eles querem exigir seu sangue, mas não querem pagar um salário justo e não oferecem nenhuma segurança, além de condições de trabalho. Muitos médicos dormem em macas no calor (ou que levem ventilador), não tem água para os profissionais (tem que levar água para não morrer de sede).

A situação é caótica, baixos salários, turnos dobrados, estão todos sobrecarregados e com medo. Pergunto a vocês, quem vai defender a nossa integridade física? Estão esperando acontecer algo mais grave para tomar uma providência? Será que alguém terá que pagar com um soco ou mesmo com a vida, para a prefeitura e a Secretária de Saúde tomarem uma solução?

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Ninguém está aguentando mais, muitos estão saindo e a grande maioria via sair. Como pode uma das cidades mais ricas da região pagar tão mal assim? E pior, ainda não apoiar seus colaboradores, deixar a Deus dará... Quando se tenta argumentar com a coordenação a mesma se finge de cega e não responde suas mensagens e quando a faz, diz que está contratando novos médicos.

Esse contrato que eles estão oferecendo para ter mais médicos é vergonhoso para nossa cidade. Ninguém vai aceitar e as condições vão ficaram bem piores do que já vem se arrastando. Só querem se sair de bonzinhos, que estão apoiando a população, mas na verdade não estão fazendo nada para melhorar. Com este salário baixo ninguém vai ficar, isso já está acontecendo. Essas horas e horas de espera dos pacientes se dá  porque falta gente para trabalhar.  

Será que precisamos fazer uma greve para melhorar as condições de trabalho? Temos que acabar com este descaso, lutar por melhores condições e segurança. Trabalhar com medo é o cúmulo do absurdo. Queremos fazer nosso trabalho, mas está bem difícil dia após dia".