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Especialistas alertam para necessidade de atendimento humanizado no processo criminal
Em audiência pública na Câmara dos Deputados nesta quinta-feira (24), o presidente da Associação dos Delegados da Polícia Federal, Luciano Soares, ...
24/02/2022 20h50
Por: Marcelo Dargelio Fonte: Agência Câmara de Notícias
Rui Falcão espera que o estatuto seja uma legislação eficiente de apoio às vítimas - (Foto: Gustavo Sales/Câmara dos Deputados)

Em audiência pública na Câmara dos Deputados nesta quinta-feira (24), o presidente da Associação dos Delegados da Polícia Federal, Luciano Soares, afirmou que é preciso humanizar o atendimento às vítimas no processo criminal, com estruturas que garantam a privacidade dessas pessoas durante o depoimento. O evento foi promovido pelo grupo de trabalho que discute o Projeto de Lei 3890/20, que institui o Estatuto da Vítima.

Para a professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Maria Luiza Bullentini, as vítimas precisam ser acolhidas e, para isso, é preciso que os profissionais envolvidos nesse atendimento sejam, além de capacitados, também sensibilizados, independentemente da estrutura disponível.

“Nós sabemos do tempo exíguo e das dificuldades enfrentadas pelos profissionais de segurança pública, das áreas de saúde, mas pequenos detalhes não precisam de tanto investimento financeiro, mas de acolhimento", apontou.

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Segundo ela, algumas questões são simples. "Perguntou? Ouça a resposta! O que mais acontece é, na hora que a pessoa está respondendo, já estão olhando para outra pessoa ou para outra questão. Ou seja: falta escuta ativa. Uma questão simples: olhar nos olhos da vítima, adequar a sua linguagem a ela."

Revitimização
Em relação às dificuldades sofridas pelas vítimas para conseguirem ter seus direitos respeitados, a gestora do Projeto Avarc e responsável pelo acolhimento a vítimas no Ministério Público de São Paulo, Celeste dos Santos, afirmou que é preciso que a vítima seja amparada desde a denúncia e que todas as tecnologias sejam empregadas para que não haja a revitimização dessas pessoas.

Um exemplo do uso da tecnologia em favor das vítimas é o sistema criado em São Paulo para a realização on-line de denúncia de violência doméstica. Segundo a jornalista Isabela Leite, a delegacia on-line criada em 2020 possibilitou o acesso de vítimas à Justiça mesmo durante a pandemia. Ela afirmou que, no primeiro ano da pandemia, 15% dos boletins de ocorrência de violência contra a mulher foram registrados pela delegacia on-line.

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“Houve queda nos boletins de ocorrência, como já era esperado, por uma subnotificação que não era novidade, de acordo com as autoridades policiais com quem eu conversei. Mas a possibilidade de ter um recurso on-line, uma ferramenta a mais para que a vítima pudesse pedir ajuda e denunciar, colaborou para que a subnotificação não fosse tão grande”, afirmou.

Para Sônia de Fátima Moura, mãe de Eliza Samudio, assassinada em 2010 a mando de Bruno Fernandes de Souza – à época, goleiro do Flamengo –, o Estatuto da Vítima vai ser fundamental para que o caminho em busca de justiça seja mais fácil para pessoas que já estão sofrendo com a perda provocada por outros.

“Com certeza teria me ajudado nessa longa caminhada de sofrimento e dor, sem amparo psicológico e jurídico. Porque eu sabia que, apesar da dor me dilacerando, eu me sentia perdida igual cego em tiroteio, atacada e humilhada muitas vezes nas redes sociais, onde minha filha havia sido retratada como uma pessoa que não foi”, desabafou.

Legislação eficiente
O autor da proposta, deputado Rui Falcão (PT-SP), afirmou que as sugestões apresentadas durante as audiências públicas realizadas pelo grupo de trabalho vão ajudar a compor uma legislação eficiente de apoio às vítimas.

“Com audiências públicas com dezenas de pessoas, depoimentos tocantes das vítimas e de especialistas, acho que este projeto vai ser aperfeiçoado. Eu tenho certeza de que nós vamos aprovar este projeto, levá-lo ao Senado e ter o Estatuto da Vítima virando realidade no nosso país”, declarou.

O grupo de trabalho que analisa o Estatuto da Vítima volta a se reunir no dia 9 de março para a última audiência antes da apresentação e apreciação do relatório final.