A família de Jane Cristina Montiel Gobatto, de 54 anos, assassinada pelo próprio marido em abril deste ano, vive um fim de ano marcado por indignação, dor e sentimento de injustiça. O autor confesso do crime, Milton Gobatto, de 64 anos, está em prisão domiciliar desde junho e, segundo relatos dos familiares, tem sido visto circulando livremente pelas ruas, frequentando supermercados e passando o Natal em família, sem qualquer tipo de monitoramento eletrônico.
Jane foi morta no dia 18 de abril, no bairro Santa Rita, em Bento Gonçalves, após o marido não aceitar o fim do relacionamento. De acordo com a investigação policial, ela foi degolada com uma faca de cozinha, em um crime classificado como feminicídio, marcado por extrema violência.
Preso inicialmente de forma preventiva, Milton Gobatto teve a prisão convertida para o regime domiciliar no dia 18 de junho, pouco mais de dois meses após o crime. A decisão do Poder Judiciário se baseou em laudos médicos apresentados pela defesa, que apontaram problemas cardíacos e respiratórios. Durante o período em que ainda estava sob custódia, Gobatto chegou a ficar cerca de dez dias internado na UPA 24 Horas.
Nesta semana, ele voltou a ser hospitalizado por questões respiratórias, fato que reforçou a manutenção da prisão domiciliar. No entanto, o que causa maior indignação à família da vítima é que o autor do crime não utiliza tornozeleira eletrônica e, na prática, não estaria restrito à residência.
“A Jane foi morta de uma forma covarde e, ao mesmo tempo, está sendo punida pelo Judiciário, porque o responsável pela sua morte segue andando livremente pelas ruas”, desabafou um familiar, que pediu para não ser identificado.
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Segundo os familiares, a sensação é de que a vítima “segue sendo violentada”, agora institucionalmente, diante da liberdade concedida ao agressor. Eles afirmam que Milton Gobatto é visto com frequência fora de casa, o que, para a família, descaracteriza o cumprimento efetivo da prisão domiciliar.
A revolta se intensifica neste período de Natal, quando a família de Jane enfrenta o luto enquanto o autor confesso do feminicídio passa as festas ao lado de parentes.
A decisão judicial também tem gerado questionamentos de movimentos de defesa dos direitos das mulheres e entidades que atuam no enfrentamento à violência doméstica e ao feminicídio. Para essas organizações, a concessão de prisão domiciliar sem monitoramento eletrônico em um caso de extrema gravidade representa um precedente preocupante e reforça a sensação de impunidade.
Especialistas lembram que o feminicídio é considerado um dos crimes mais graves do ordenamento jurídico brasileiro, justamente por envolver violência de gênero e, na maioria dos casos, ocorrer dentro do ambiente doméstico.
O processo segue em tramitação e permanece sob supervisão do Judiciário. Entidades locais acompanham o caso e defendem que haja maior rigor no cumprimento das medidas cautelares, especialmente para garantir que decisões judiciais não ampliem o sofrimento das famílias das vítimas.
Enquanto isso, a família de Jane Cristina Montiel Gobatto tenta transformar a dor em luta, cobrando respostas do sistema de Justiça e reafirmando que o feminicídio não termina com a morte — ele continua quando a memória da vítima é confrontada pela liberdade de quem tirou sua vida.