Uma campanha publicitária da Havaianas para o fim de ano desencadeou uma nova polêmica nas redes sociais e no meio político, com críticas de apoiadores da direita e pedidos de boicote à marca. O motivo é a escolha da atriz Fernanda Torres como protagonista do comercial, interpretada por críticos como um possível sinal de alinhamento político.
No vídeo, Fernanda Torres — indicada ao Oscar neste ano — afirma que não deseja que o público comece 2026 “com o pé direito”, expressão tradicionalmente associada à sorte. “Desculpa, mas eu não quero que você comece 2026 com o pé direito. Não é nada contra a sorte, mas vamos combinar: sorte não depende de você”, diz a atriz. Em seguida, completa: “O que eu desejo é que você comece o ano novo com os dois pés. Os dois pés na porta, os dois pés na estrada, os dois pés na jaca, os dois pés onde você quiser. Vai com tudo! De corpo e alma, da cabeça aos pés”.
A mensagem, pensada para estimular uma postura ativa e menos dependente do acaso, foi interpretada por setores conservadores como uma metáfora política. Nas redes sociais, usuários passaram a acusar a empresa de se posicionar a favor da esquerda, associando a atriz a debates políticos recentes. Comentários nas publicações da marca pedem o boicote à Havaianas e incentivam a troca pelos produtos da concorrente Sandálias Ipanema.
A controvérsia ganhou maior visibilidade após o ex-deputado federal Eduardo Bolsonaro anunciar publicamente um boicote à marca. Em vídeo publicado neste domingo (21), gravado nos Estados Unidos — onde reside desde fevereiro —, ele aparece descartando um par de chinelos da Havaianas no lixo. O vídeo já possuía mais de 4 milhões de visualizações e 32,5 mil comentários na manhã desta segunda-feira, 22.
Na gravação, Eduardo Bolsonaro afirma ter se decepcionado com a empresa, que, segundo ele, sempre foi um símbolo nacional. Para o ex-parlamentar, a escolha de Fernanda Torres como garota-propaganda não teria sido casual e refletiria um alinhamento ideológico. Ele também citou pessoas condenadas pelos atos golpistas de 8 de janeiro e acusou a atriz de apoiar prisões relacionadas à invasão das sedes dos Três Poderes, argumento que reforçou a mobilização de seus seguidores contra a marca.
Desde a divulgação do comercial, a campanha passou a ser alvo de debates acalorados nas redes sociais, com trocas de acusações entre defensores e críticos da empresa. Para alguns consumidores, trata-se apenas de uma mensagem publicitária genérica, sem conotação política. Para outros, a escolha da atriz e o discurso adotado carregariam um simbolismo ideológico.
Até a última atualização desta reportagem, a Havaianas não havia se pronunciado oficialmente sobre as acusações de viés político nem sobre o movimento de boicote. Fernanda Torres também não comentou publicamente as críticas.
O episódio evidencia como campanhas publicitárias têm se tornado alvos frequentes da polarização política no Brasil. Nos últimos anos, empresas passaram a ser pressionadas por grupos ideológicos distintos, seja por posicionamentos explícitos, seja por interpretações atribuídas a escolhas criativas.
No caso da Havaianas, a repercussão coloca a marca — tradicionalmente associada a um produto popular e à identidade brasileira — no centro de um debate que extrapola o marketing e reflete o clima de tensão política que segue marcando o país às vésperas de um novo ano.