Política A estratégia energét
China acelera descarbonização para mitigar riscos energéticos
Dependência de petróleo do Oriente Médio expõe vulnerabilidades logísticas.
21/12/2025 13h18
Por: Marcelo Dargelio Fonte: Reprodução/Especial
Reprodução/Especial

A demanda da China por petróleo do Oriente Médio revela fragilidades na estratégia energética de Pequim. A dependência de rotas marítimas vulneráveis para garantir o abastecimento tem levado o país a acelerar políticas para reduzir o consumo de combustíveis fósseis. Esse risco logístico impacta as expectativas de preços, custos de transporte e decisões de investimento no mercado global de energia.

Atualmente, a maior parte do petróleo importado pela China provém do Golfo Pérsico, atravessando uma das cadeias logísticas mais sensíveis do comércio global. Os navios precisam passar pelo Estreito de Ormuz, uma área marcada por tensões entre Irã, Estados Unidos e países do Golfo. Posteriormente, enfrentam o congestionado Estreito de Malaca, considerado um ponto crítico para a segurança energética chinesa. Com apenas 2,7 km de largura em seu ponto mais estreito, qualquer incidente nesse canal pode interromper rapidamente o fluxo de energia.

A segurança no Estreito de Malaca não está sob controle direto da China, que depende de países do Sudeste Asiático e da presença de potências navais como os Estados Unidos. Essa concentração de riscos transforma Malaca em um potencial gerador de crises, com qualquer interrupção resultando em alta dos preços do petróleo e dos fretes marítimos. A situação se agrava no Mar do Sul da China, onde disputas territoriais e a rivalidade com os Estados Unidos aumentam o risco de choques que impactam a oferta global.

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A militarização de ilhas e recifes na região, com a instalação de bases e armamentos, intensifica o risco de incidentes entre forças navais. Essa área é um dos principais focos de tensão geopolítica, onde cerca de um terço do comércio marítimo global transita. Recentemente, a instabilidade no Mar Vermelho forçou desvios pelo Cabo da Boa Esperança, encarecendo fretes e prolongando prazos, o que reforça a vulnerabilidade das cadeias logísticas concentradas em estreitos estratégicos.

Diante desse cenário, a China busca alternativas de longo prazo para reduzir suas vulnerabilidades, como a construção de oleodutos terrestres e portos estratégicos, parte da Iniciativa Cinturão e Rota. Lançado em 2013, este projeto visa grandes investimentos em infraestrutura, combinando rotas terrestres e marítimas para facilitar o comércio e aumentar a influência econômica de Pequim. A exposição ao risco geopolítico tem levado a China a tratar a redução do consumo de petróleo não apenas como uma política climática, mas também como uma estratégia geopolítica.

O avanço da eletrificação, especialmente no transporte pesado, começa a reduzir a demanda por diesel e a antecipar o pico do consumo de petróleo no país. Projeções indicam uma queda estrutural no uso de derivados ao longo da próxima década, com estabilização do consumo total entre 2025 e 2030. A eletrificação, portanto, atua como um mecanismo de proteção contra os gargalos das rotas globais de petróleo, alterando o equilíbrio de risco no mercado global. Essa transição energética não só diminui a dependência do petróleo importado, mas também apresenta novos desafios para produtores, refinarias e investidores que apostam em uma demanda crescente da China.

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