Meio Ambiente Investigação
Promotoria vai investigar possível crime ambiental da Prefeitura de Bento
Investigação do Ministério Público pode apontar que máquina do poder público estava fazendo bem mais que somente troca de cerca do aeródromo.
17/12/2025 20h02
Por: Marcelo Dargelio
Máquina da prefeitura foi abandonada após flagrante de desmatamento - Foto: NB Notícias/Especial

O Ministério Público do Rio Grande do Sul instaurou um expediente investigatório para apurar um possível crime ambiental cometido pela Prefeitura de Bento Gonçalves durante a abertura de uma estrada sem licenciamento ambiental. A apuração ficará sob responsabilidade da promotora de Justiça Carmem Garcia, que determinou o envio imediato de ofício ao município após tomar conhecimento da denúncia revelada em reportagem do NB Notícias.

A investigação tem como foco uma área próxima ao aeródromo, onde uma máquina da prefeitura foi flagrada promovendo desmatamento e abertura de via sem autorização ambiental. Diante da repercussão do caso e da atuação do Ministério Público, o município informou, de forma preliminar, que todas as obras no local foram paralisadas por precaução, até a regularização da situação.

 
 
 
 
 
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Segundo a promotora Carmem Garcia, a medida foi adotada no mesmo dia em que a denúncia se tornou pública.

“Instaurei um expediente na promotoria, determinando a expedição de ofício à Secretaria Municipal do Meio Ambiente, no dia mesmo do ocorrido, para averiguar a situação e adotar providências na sua esfera de competência”, afirmou.

Ela acrescentou que, embora ainda não tenha recebido resposta formal da prefeitura, foi informada verbalmente pelo secretário da pasta de que a obra foi suspensa para tratar da questão do licenciamento.

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Vídeo do prefeito e questionamentos

No mesmo dia da denúncia, o prefeito Diogo Siqueira divulgou um vídeo nas redes sociais tentando minimizar a situação. Nas imagens, uma equipe de servidores aparece realizando a troca de telas de acesso ao aeródromo, ação que, segundo o Executivo, seria o foco das intervenções no local.

 
 
 
 
 
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No entanto, o prefeito evitou ir até o ponto onde o desmatamento estava efetivamente ocorrendo, área que motivou a denúncia ambiental. Foi justamente nesse local que um servidor público teria sido orientado, por telefone, pelo vice-prefeito Amarildo Lucatelli, a abandonar o maquinário e retornar à prefeitura, após o flagrante.

A situação foi registrada pelo ambientalista Gilnei Rigotto, integrante da Associação Ativista Ecológica (AAECO), que acompanhava as movimentações e denunciou a suposta irregularidade, após receber ligações dos moradores do bairro.

Estrada para futuro loteamento

O Departamento de Investigação (DI) do NB Notícias apurou que a abertura da estrada teria como objetivo garantir acesso a um grande loteamento que será implantado naquela região. Segundo as informações levantadas, a prefeitura estaria executando a obra sem exigir do empreendedor qualquer medida mitigatória ambiental, o que pode configurar irregularidade administrativa e ambiental.

Um responsável pelo futuro loteamento tentou justificar a intervenção para a AAECO, alegando que não seria necessário licenciamento ambiental para a abertura de estradas no local. Como base, citou o Decreto nº 6.660, de 21 de novembro de 2008, que regulamenta dispositivos da Lei nº 11.428/2006 (Lei da Mata Atlântica), mencionando a possibilidade de abertura de pequenas vias e corredores de acesso.

Ambientalistas, no entanto, contestam essa interpretação e defendem que a legislação não autoriza intervenções sem análise prévia dos órgãos ambientais, especialmente quando há uma grande supressão de vegetação nativa.

Possível inquérito e reparação ambiental

De acordo com a promotora Carmem Garcia, o expediente instaurado é uma etapa preliminar. Dependendo do que for constatado, o caso pode evoluir para a abertura de um inquérito civil, com o objetivo de dimensionar eventuais danos ambientais.

“Caso fique comprovado o dano ambiental, a Prefeitura de Bento Gonçalves será intimada a realizar a reparação dos danos no local”, afirmou a promotora.