Justiça Conflito?
Ministro do STF viaja em jatinho com advogados ligados ao Banco Master
Dias Toffoli, que assumiu o processo envolvendo o banco, foi assistir à final da Libertadores na companhia dos profissionais.
09/12/2025 09h36
Por: Marcelo Dargelio

O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), viajou a Lima, no Peru, no fim de novembro, no mesmo jatinho de empresários e advogados diretamente relacionados ao caso do Banco Master — investigação que, poucos dias depois, ele próprio colocaria sob “sigilo máximo” e retiraria da esfera da Justiça Federal. A coincidência entre a viagem e a atuação processual levantou questionamentos sobre conflito de interesses e a relação entre ministros da Corte e investigados.

A aeronave privada pertencia ao empresário Luiz Oswaldo Pastore, palmeirense e anfitrião do voo, que levou Toffoli, o advogado Augusto Arruda Botelho e outras 12 pessoas para assistir à final da Libertadores, em Lima. O Palmeiras, time de todos os convidados, disputava a decisão contra o Flamengo.

O caso foi revelado por Lauro Jardim, n’O Globo, e confirmado pelo Estadão com um dos passageiros, sob anonimato.

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Advogado de diretor do Master estava no mesmo voo

O episódio chamou atenção porque Arruda Botelho é advogado de Luiz Antonio Bull, diretor de compliance do Banco Master e um dos investigados na operação “Compliance Zero”. Bull foi preso e hoje cumpre liberdade provisória com tornozeleira eletrônica.

Quando os três embarcaram rumo ao Peru, o processo ainda não estava no gabinete de Toffoli — a distribuição seria feita horas depois, por sorteio, na noite de 28 de novembro.

Três dias após retornar da viagem, Toffoli:

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A postura concentradora fez com que o ministro se tornasse, na prática, o “guardião” do caso que envolve o banco, seu proprietário Daniel Vorcaro, e outros executivos da instituição.

No centro da controvérsia: sigilo, foro e proximidade

A investigação teve início após a PF apreender, em endereço ligado a Vorcaro, um envelope com o nome do deputado João Carlos Bacelar (PL-BA). Por envolver parlamentar, o processo foi enviado ao STF.

Embora investigadores afirmem não haver indícios robustos que justifiquem a manutenção do caso na Suprema Corte, Toffoli decidiu permanecer com ele — decisão que gerou estranhamento entre delegados e procuradores que acompanham o inquérito.

Segundo integrantes da PF ouvidos reservadamente pela imprensa, as suspeitas sobre o negócio imobiliário citado pelo deputado Bacelar não justificariam a migração da investigação para o Supremo.

Ainda assim, por determinação de Toffoli, a 10ª Vara Federal de Brasília:

A sequência de decisões reforçou a percepção de que o ministro blindou o processo.

"Acaso" ou demonstração de influência?

Juristas avaliam que a presença de Arruda Botelho — advogado de um dos investigados — no mesmo voo que Toffoli, dias antes de decisões cruciais, provoca ao menos uma aparência de conflito de interesses.

Em conversas reservadas, advogados criminalistas chegaram a dizer que o episódio pode, paradoxalmente, beneficiar Botelho. Como afirmou um deles:

“Para futuros clientes enrolados, ele mostrou proximidade, real ou não, com um ministro do Supremo. É um chamariz poderoso.”

A proximidade informal entre ministros e advogados de partes interessadas — comum nos bastidores de Brasília, mas raramente exposta publicamente — reacende o debate sobre transparência, limites éticos e a necessidade de regras claras para interação entre membros do Judiciário e profissionais que atuam perante a Corte.

Processo segue sob sigilo absoluto

Com a imposição de sigilo máximo, nenhum detalhamento oficial é divulgado sobre o conteúdo da investigação.

O Banco Master, alvo central do caso, está envolvido em suspeitas de fraudes financeiras, movimentações irregulares e possíveis crimes contra o sistema bancário.

Enquanto isso, as decisões de Toffoli mantêm:

A viagem, o sigilo, a escolha do relator e a atuação posterior do ministro transformaram o episódio em mais um capítulo de opacidade e questionamentos éticos envolvendo a cúpula do Judiciário brasileiro.