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Justiça deve começar a devolver dinheiro a credores da Unick
Criptoativos apreendidos pela Polícia Federal serão usados para indenizar vítimas do esquema que prometia lucros de até 100% em seis meses.
31/10/2025 17h09
Por: Marcelo Dargelio

Após seis anos de espera, os investidores da Unick — empresa de investimentos do Vale do Sinos investigada por fraudes financeiras e pirâmide financeira — começam a vislumbrar o tão aguardado ressarcimento das perdas. A Justiça de Novo Hamburgo confirmou que os 1,6 mil bitcoins apreendidos pela Polícia Federal em 2019 foram oficialmente entregues à Vara Empresarial no último dia 24 de outubro e serão usados para devolver parte dos valores aos credores.

Os criptoativos estão avaliados em cerca de R$ 950 milhões, conforme a cotação atual do bitcoin, e representam o principal ativo da massa falida da empresa, que teve falência decretada em abril deste ano.

3 mil credores já pediram ressarcimento

Segundo o escritório Medeiros Administração Judicial, responsável por conduzir o processo de falência, 3 mil credores já protocolaram pedidos de restituição. O valor total dos créditos ainda está em análise, mas já soma R$ 200 milhões, sem que ninguém tenha sido ressarcido até o momento.

Em nota, o escritório afirmou que o pagamento será possível após a realização (venda) dos bitcoins, prevista para ocorrer em meados de dezembro de 2025.

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“A expectativa de pagamento será divulgada assim que a Administração Judicial concluir a realização do ativo”, informou o comunicado.

Apesar do avanço, não há data definida para o início dos pagamentos, uma vez que o processo envolve a análise de mais de 1,5 milhão de transações.

“Neste momento, podemos afirmar apenas que teremos uma confirmação concreta de prazos de pagamento no primeiro semestre do próximo ano”, acrescenta a nota.

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A Unick Forex, por sua vez, declarou estar “colaborando de forma ampla e positiva com o processo de falência” e “arrecadando patrimônio para saldar as dívidas da empresa”.

Entenda o caso Unick

A Unick se apresentava como uma assessoria de investimentos em câmbio e criptomoedas, sediada em São Leopoldo (RS). Em 2019, a empresa foi alvo da Operação Lamanai, da Polícia Federal, que investigava fraudes nos mercados de forex e moedas digitais.

De acordo com o inquérito, a Unick prometia retornos de até 100% sobre o valor investido em apenas seis meses, captando novos clientes com promessas de ganhos fáceis. O modelo, segundo a PF, funcionava como uma pirâmide financeira: os pagamentos dos antigos investidores eram feitos com o dinheiro de novos aplicadores.

Na época, a Polícia Federal apontou que a empresa chegou a movimentar R$ 28 bilhões e captar até R$ 40 milhões por dia.

Ações judiciais e réus denunciados

O Ministério Público Federal (MPF) denunciou 15 pessoas envolvidas no esquema pelos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e operação de instituição financeira sem autorização. Todos tiveram a denúncia aceita pela Justiça Federal, e o processo segue em fase de instrução na 7ª Vara Federal de Porto Alegre.

Os réus, que chegaram a ser presos em 2019, respondem atualmente em liberdade.

Segundo o MPF, entre 2017 e 2019 o grupo usou a fachada de cursos e assessorias financeiras para captar investimentos de terceiros e desviar recursos para o exterior. Os pacotes vendidos pela empresa prometiam “ensinar a investir”, mas, na prática, eram disfarces para captação irregular de dinheiro.

O que acontece agora

A Justiça deve dar andamento à venda dos bitcoins apreendidos até dezembro. Só após a conversão dos criptoativos em moeda nacional será possível definir valores exatos e prazos de restituição.

Enquanto isso, o processo de habilitação de créditos segue aberto, permitindo que mais vítimas apresentem seus comprovantes de investimento.

A expectativa é que os primeiros pagamentos aos credores ocorram no primeiro semestre de 2026, marcando o início do ressarcimento de um dos maiores escândalos financeiros da história recente do Rio Grande do Sul.