O dono de uma imobiliária de Porto Alegre foi preso nesta sexta-feira (24) acusado de desviar valores milionários de condomínios residenciais que administrava na Capital. Segundo a Polícia Civil, o empresário Almir Romeu Vasques da Silva, proprietário da UP Gestão Imobiliária, teria desviado pelo menos R$ 4 milhões de 15 condomínios localizados nos bairros Petrópolis, Higienópolis, Santana e Jardim do Salso.
A operação policial, conduzida pela 8ª Delegacia de Polícia da Capital, também teve como alvo a esposa do empresário, investigada por participar do esquema. De acordo com o delegado Juliano Ferreira, responsável pelo caso, o montante desviado pode chegar a R$ 10 milhões, à medida que novas vítimas são identificadas.
Conforme as investigações, ao longo dos últimos 18 meses, a imobiliária deixou de repassar pagamentos de contas básicas — como água, luz, gás, tributos e seguros — mesmo após receber o dinheiro dos condomínios.
“Os moradores começaram a perceber o golpe quando passaram a receber cobranças diretas das concessionárias. Em um dos prédios, só a dívida de água chega a R$ 54 mil”, detalhou o delegado Ferreira.
O não pagamento de seguros, inclusive, colocava os edifícios em situação de risco. “Caso houvesse um incêndio, os prédios estariam sem cobertura, porque os prêmios não eram quitados”, acrescentou o delegado.
A Polícia Civil descobriu ainda que Almir e sua esposa criaram pelo menos cinco empresas laranjas, todas registradas em nomes diferentes, mas ligadas diretamente ao casal. Essas empresas eram contratadas pela própria administradora para realizar serviços de limpeza e manutenção nos condomínios, simulando concorrência e desviando ainda mais recursos.
“Temos dois crimes bem evidentes: apropriação indébita, pelos valores retidos e não repassados aos credores, e estelionato, pois a esposa montava empresas do mesmo ramo para burlar licitações e vencer contratos”, afirmou Ferreira.
Apesar de alguns serviços de limpeza terem sido executados, moradores relataram que produtos de higiene eram diluídos com água, e que a qualidade era precária.
Após ser preso, Almir Silva admitiu os atrasos nos pagamentos, mas afirmou que a empresa faliu e que estava tentando negociar as dívidas.
“A maioria dos condomínios eu já consegui resolver, na verdade. Eu trabalhava demais, depois que meu sócio saiu, acho que me perdi”, declarou o empresário.
A polícia, porém, contesta a versão. “As provas apontam que o dinheiro foi desviado de forma deliberada, inclusive com movimentações entre contas pessoais e empresas fantasmas”, reforçou o delegado.
A UP Gestão Imobiliária tinha sede no bairro Petrópolis, onde estão concentradas a maioria das vítimas. A polícia agora busca identificar outros condomínios administrados pela empresa e rastrear o destino dos valores desviados, além de bens adquiridos de forma ilícita.
O casal deve responder pelos crimes de apropriação indébita, estelionato e lavagem de dinheiro. A operação contou com apoio do Ministério Público e deve seguir com novas diligências nos próximos dias.