A Anvisa autorizou o uso do Mounjaro (princípio ativo tirzepatida) para o tratamento da apneia obstrutiva do sono (AOS) em adultos com obesidade. A resolução foi assinada na sexta-feira (17) e publicada no Diário Oficial da União nesta segunda (20). Trata-se do primeiro medicamento registrado no Brasil com indicação específica para apneia do sono, segundo a fabricante Eli Lilly. O fármaco já era aprovado no país para diabetes tipo 2 e para controle de peso.
Até aqui, a AOS — marcada por paradas respiratórias recorrentes durante o sono, com ronco, despertares e sonolência diurna — era manejada principalmente com perda de peso, CPAP e medidas de higiene do sono. A nova indicação amplia o arsenal terapêutico em um país onde estudos estimam que cerca de um terço dos adultos tenha algum grau de apneia.
A aprovação se apoia nos ensaios SURMOUNT-OSA, publicados no New England Journal of Medicine, que mostraram que a tirzepatida reduziu de forma significativa o índice de eventos respiratórios (AHI) e a hipóxia noturna, com benefício consistente em 52 semanas — com ou sem CPAP concomitante. Os estudos também registraram perda de peso relevante, fator diretamente ligado à melhora da AOS.
O movimento regulatório brasileiro acompanha a tendência internacional: em dezembro de 2024, a agência americana FDA aprovou a tirzepatida (marca Zepbound) como primeiro fármaco para AOS em adultos com obesidade.
A tirzepatida é um agonista duplo de GIP/GLP-1 que melhora o controle metabólico e promove redução ponderal — o que reduz a colapsabilidade das vias aéreas superiores, mecanismo central da AOS em pessoas com excesso de peso. Ensaios clínicos reportaram ainda melhora de pressão arterial e parâmetros polissonográficos.
Com a nova indicação, o Mounjaro seguirá sujeito a prescrição médica, acompanhamento de efeitos adversos e uso integrado a mudanças de estilo de vida (dieta, atividade física e higiene do sono). Diretrizes e posicionamentos de sociedades médicas devem ser atualizados para esclarecer critérios de elegibilidade, doses e monitoramento em cenários com e sem CPAP.
A apneia do sono é um problema de saúde pública associado a hipertensão, arrtimias, diabetes e riscos cardiovasculares. Com prevalência estimada em 32,9% na população brasileira adulta, a chegada da tirzepatida como terapia específica representa um marco para milhões de pacientes que lutam para manter a adesão ao CPAP ou têm resposta parcial às medidas convencionais.