O professor Rafael Martins da Costa, conhecido nas redes sociais por suas charges críticas à atuação do prefeito de Bento Gonçalves, Diogo Siqueira (PSDB), prepara agora uma nova investida artística: a revista “Dioquico”, publicação satírica inspirada em clássicos do humor político brasileiro. O projeto, que busca financiamento coletivo para sair do papel, é uma resposta direta ao afastamento do docente da escola onde trabalhava — decisão tomada pelo prefeito após uma de suas ilustrações gerar polêmica nas redes sociais.
Rafael Martins ficou conhecido localmente por seus cartuns e tiras de humor político, publicados em suas redes (@rafael.martinsdacosta no Instagram e Facebook). As charges, geralmente direcionadas à atuação do prefeito e de figuras públicas de Bento Gonçalves, ganharam repercussão pela ironia e pela crítica social.
O ponto de ruptura veio quando Rafael publicou uma charge satirizando o assassinato do influenciador americano Charlie Kirk, fundador da organização conservadora Turning Point USA. A publicação foi o estopim para que Diogo Siqueira determinasse seu afastamento da função pública. Desde então, o professor passou a ser alvo de críticas e também de apoio, tornando-se uma figura central na discussão sobre liberdade de expressão e censura política.
O novo projeto do professor é uma revista chamada “Dioquico”, nome inspirado em uma caricatura do próprio prefeito e o eterno personagem do humorístico Chaves. A publicação pretende reunir charges, cartuns e tiras que já foram alvo de controvérsia, além de novas criações inéditas. A revista terá 20 páginas coloridas, com tiragem inicial de 2 mil exemplares.
Para viabilizar a impressão, Rafael abriu uma campanha de arrecadação no Catarse, a maior plataforma de crowdfunding do Brasil voltada a projetos criativos, culturais e sociais. Ele busca R$ 3 mil para cobrir os custos da primeira edição. As contribuições podem ser feitas em dois valores:
R$ 10, para quem deseja apenas apoiar a iniciativa;
R$ 20, para quem quiser receber um exemplar da revista.
“A ideia é resgatar o espírito das publicações satíricas que marcaram gerações, como a Mad e a Bundas. Os políticos de hoje são tão midiáticos quanto artistas de TV nos anos 80. Então, por que não transformá-los em personagens?”, explica Rafael.
A sátira política é uma tradição centenária no Brasil, usada como ferramenta de crítica social e liberdade artística. De O Pasquim a Chiclete com Banana, o humor gráfico serviu para desafiar autoridades e provocar reflexão. A revista “Dioquico” busca seguir essa linha, com uma estética que remete às revistas em quadrinhos populares das décadas de 1980 e 1990, como as dos Trapalhões, Gugu e Xuxa.
Rafael afirma que a publicação trará uma seleção de desenhos que retratam “os acontecimentos políticos do mundo, do Brasil, de Bento Gonçalves e da fictícia cidade de Vento Gonzalez”, mesclando crítica, ironia e humor.
O caso reacende o debate sobre os limites da sátira e da liberdade artística em um contexto de crescente polarização política. O afastamento de Rafael Martins da escola pública onde lecionava gerou reações diversas na comunidade, com manifestações de apoio de artistas, professores e ativistas da liberdade de expressão.
Enquanto o prefeito Diogo Siqueira não se pronunciou sobre o lançamento da revista, o projeto de Rafael vem ganhando visibilidade e apoio de internautas, que enxergam na “Dioquico” uma forma de resistência e de crítica criativa ao poder local.
A campanha de arrecadação segue ativa no site do Catarse, e Rafael espera lançar a primeira edição ainda neste ano, transformando a polêmica em arte — e o afastamento em um manifesto pela liberdade de expressão. Dos R$ 3 mil necessários, até o momento R$ 1 mil já foram arrecadados.