Um almoço em Bento Gonçalves, na última sexta-feira (3), reuniu cerca de cem lideranças empresariais, mas o cardápio principal não estava nas travessas — estava nas entrelinhas políticas. O deputado federal e pré-candidato a governador Luciano Zucco (PL) aproveitou o encontro para lançar uma provocação elegante: sugeriu que o prefeito Diogo Siqueira (PSDB) e o deputado estadual Guilherme Pasin (PP) migrem para o Partido Liberal.
O gesto, embora envolto em cordialidade, tem um significado claro: o PL quer fincar bandeira de vez na Serra Gaúcha, onde PSDB e PP ainda dominam o cenário político local. Zucco, que vem se movimentando com ambição estadual, tenta articular o que chama de “união do campo da direita”, mirando 2026 — e Bento seria o laboratório ideal dessa coalizão.
Em tom de apelo estratégico, Zucco lamentou que “Bento Gonçalves esteja perdendo a chance de ter representantes estadual e federal” e que, com a adesão da dupla, essa lacuna seria preenchida. Em tradução livre: o PL quer transformar a força eleitoral da Serra em capital político próprio.
O deputado Guilherme Pasin, por sua vez, tratou de minimizar o convite, classificando-o como uma “gentileza política” — expressão diplomática que, em Brasília, costuma significar “não agora, mas nunca se sabe”. Em conversa com a coluna, Pasin frisou estar “muito bem no PP”, com espaço partidário, prestígio interno e cadeira na executiva. Mas reconheceu que a aproximação entre PL e PP é algo que “pode render alianças futuras”.
Enquanto Zucco investe na Serra, o deputado federal Sanderson (PL) costura o lado institucional da legenda. Também presente em Bento e Garibaldi, Sanderson confirmou, nos bastidores da Fenachamp, que pretende concorrer ao Senado em 2026. O nome do ex-prefeito de Farroupilha, Fabiano Feltrin, surgiu como possível suplente de senador — embora o partido ainda insista em tê-lo como candidato a deputado federal, dada sua projeção regional.
Feltrin, animado com a lembrança, é visto dentro do PL como um perfil agregador, com trânsito entre setores empresariais e eleitorado conservador — ativo político valioso num Rio Grande do Sul cada vez mais fragmentado.
O movimento de Zucco e Sanderson não é isolado. O PL gaúcho tenta capitalizar o vácuo de liderança na direita tradicional, ocupando o espaço deixado por um PP dividido entre pragmatismo e identidade ideológica. Em Bento Gonçalves, esse reposicionamento ganha contornos simbólicos. É a tentativa do partido de nacionalizar a força da Serra, região símbolo do empreendedorismo e do conservadorismo social — atributos que casam perfeitamente com o discurso liberal-populista que o PL vem adotando no Estado.
A política, como o vinho da região, precisa de tempo para maturar. Mas o movimento desta sexta mostrou que a safra eleitoral de 2026 já começou a fermentar — e Zucco parece disposto a brindar antes de todo mundo.