Há algo de profundamente doentio no Brasil contemporâneo. O radicalismo político, que há anos corrói nossa convivência democrática, atingiu níveis inaceitáveis. A prova mais recente é a reação de parte dos brasileiros ao assassinato do americano Charlie Kirk. Comemorar a morte de alguém, seja quem for, é um sinal alarmante de que perdemos a noção básica de humanidade.
Kirk não era um personagem simples. Como jovem político conservador, defendia o porte de armas, fazia discursos marcados por preconceitos e atacava minorias. Nada disso deve ser romantizado. Mas também nada disso justifica um aplauso diante da sua execução. Confundir discordância com ódio que deseja silenciar pela força é sintoma de uma sociedade gravemente adoecida.
O desumano está justamente em achar que alguém deve morrer por pensar diferente, por defender ideias contrárias às suas. É o fim da linha do diálogo, a negação da política e da civilização. A rivalidade entre direita e esquerda, já saturada dentro do Brasil, agora atravessa fronteiras e transforma até a tragédia de um político americano em munição para alimentar o rancor de nossas próprias trincheiras ideológicas.
Discordar é legítimo. Criticar, confrontar, resistir às ideias que consideramos perigosas ou injustas também. O que não é legítimo — e jamais será — é festejar o fim da vida de alguém, por mais que o consideremos um inimigo. Isso não é política. Isso não é democracia. Isso não é humano.
Se chegamos ao ponto de aplaudir uma morte, é porque estamos adoecidos como povo. E enquanto não compreendermos que a vida está acima da ideologia, continuaremos mergulhados nesse abismo em que a diferença virou inimiga e a intolerância se transformou em bandeira.