Mãos à Obra! Mãos à obra
Longevidade só é possível combinada com acessibilidade
Uma casa acessível é garantia de qualidade de vida e autonomia.
24/08/2025 19h33 Atualizada há 11 horas
Por: Marcelo Dargelio
Associamos acessibilidade em espaços públicos, mas é dentro de casa que ela se torna ainda mais essencial - Fotos: Reprodução/Especial

A expectativa de vida tem aumentado significativamente ao longo dos anos, graças aos avanços da medicina, melhorias na qualidade de vida e acesso a serviços de saúde. No entanto, para que as pessoas possam aproveitar ao máximo esse aumento da longevidade, é fundamental garantir acessibilidade. No contexto da longevidade, uma das grandes aspirações é manter a autonomia e independência por mais tempo e com mais qualidade.

O Co Fundador e Head de inovação na Mover Acessibilidade, Júlio Ortolan, explica que a acessibilidade em uma residência é fundamental. “Ter um lar adequado garante autonomia e segurança para quem tem mobilidade reduzida”, afirma Ortolan. Isso significa poder ir e vir, usar todos os cômodos e fazer as atividades diárias sem depender de ninguém. “É especialmente crucial quando há idosos na família, pessoas com deficiência ou se a ideia é morar na mesma casa por muitos anos, envelhecendo com conforto e dignidade”, explica.

Arquitetura para acessibilidade

A arquiteta e especialista em acessibilidade arquitetônica e mobilidade urbana, Fabiana Pessoa explica que uma casa acessível é uma casa segura, acolhedora e preparada para o futuro. “Quando falamos em acessibilidade residencial, falamos também de arquitetura longeva, ou seja, aquela que é pensada para durar uma vida inteira, acompanhando as fases da vida de seus moradores: infância, fase adulta, envelhecimento, ou momentos de adoecimento e reabilitação”.

Acessibilidade deve priorizar as particularidades de quem vai utilizar o espaço

 

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Acessibilidade é o que transforma uma casa em lar de verdade. Ela garante autonomia, conforto e segurança para todas as pessoas que vivem naquele espaço, independentemente da idade, da condição física ou das limitações temporárias ou permanentes. “Muitas vezes, associamos acessibilidade apenas a espaços públicos, mas é dentro de casa que ela se torna ainda mais essencial. Afinal, a residência é o lugar onde a gente precisa se sentir seguro, livre e independente”, completa a profissional.

Uma casa acessível acolhe as mudanças da vida: o crescimento das crianças, o envelhecimento dos moradores, uma recuperação pós-cirurgia, uma gestação, ou até mesmo o surgimento de uma deficiência. “Investir em acessibilidade nas residências é, na verdade, cuidar de si e de quem se ama. É garantir que todos consigam circular, utilizar os ambientes e exercer sua rotina com dignidade hoje e no futuro”, enfatiza.

Tecnologia para acessibilidade

Conforma a arquiteta, a tecnologia para acessibilidade tem revolucionado o modo como vivemos e pode ser uma grande aliada da acessibilidade.

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Alguns exemplos:
Comandos por voz (para abrir portas, ligar luzes, acionar cortinas);
Sensores de presença (em iluminação e torneiras);
Fechaduras digitais (com senhas ou biometria);
Automação residencial (integração de sistemas de som, vídeo, segurança e conforto);
Móveis e equipamentos adaptáveis (que sobem e descem com facilidade).

“Essas soluções ampliam a autonomia, especialmente para pessoas com deficiência física, visual ou cognitiva”.

A acessibilidade em residências deve priorizar, acima de tudo, as necessidades e particularidades de quem vai utilizar o espaço. As normas técnicas servem como importantes guias, mas o foco principal precisa estar no conforto, segurança e autonomia do usuário, evitando que o projeto fique restrito apenas ao cumprimento das diversas regras.

Investimento

Uma casa acessível acolhe as mudanças da vida

 

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Sobre os custos para adaptar uma casa Júlio revela que varia bastante. “Vai depender muito de como é o projeto da casa, as mais antigas costumam ser mais complexa, visto que não se tinha essa cultura de pensar em espaços acessíveis”, explica. Para ações mais comuns, como instalar uma rampa de acessibilidade, pode custar entre R$1.500,00 e R$ 3.000,00. Já um elevador residencial, que oferece um conforto enorme, pode passar dos R$ 40.000,00 o que pode ficar inviável. “Geralmente, as pessoas investem nisso quando a necessidade bate, seja por conta de um acidente, o envelhecimento dos moradores ou até mesmo ao planejar um futuro mais seguro e autônomo na própria casa”, conta.

Adaptações fundamentais

Rampas de acesso e eliminação de todos os desníveis;
Portas mais largas (mínimo de 80 cm para passagem de cadeira de rodas);
Circulações livres (largura mínima de 90 cm a 1,20 m);
Banheiros adaptados com barras de apoio, banco de banho, área de giro e box sem desnível;
Pias e bancadas rebaixadas, com espaço inferior livre;
Armários acessíveis, com puxadores e alturas funcionais;
Piso antiderrapante e nivelado, sem obstáculos;
Tomadas, interruptores e maçanetas em alturas acessíveis.

“É fundamental ouvir quem realmente vai usar o espaço. A verdadeira acessibilidade nasce da escuta atenta e da empatia”, destaca a arquiteta. Isso se torna ainda mais importante quando o lar é adaptado para idosos, pois o foco precisa estar na segurança e na prevenção de acidentes domésticos, garantindo conforto e tranquilidade para todos.

O melhor caminho

Mas qual o melhor caminho para quem busca soluções em acessibilidade? “O primeiro passo é buscar profissionais especializados. Arquitetos e engenheiros que entendem de acessibilidade são ótimos para avaliar as necessidades e propor as melhores soluções para uma casa”, responde Fabiana. Além disso, vale a pena pesquisar sobre programas e incentivos governamentais que podem ajudar a financiar essas adaptações.

Adequado é melhor que adaptado. Novos projetos precisam já nascer com uma visão para a acessibilidade e pensando no envelhecimento da população. Investir em acessibilidade é investir em qualidade de vida. Uma casa acessível é um lar onde todos se sentem bem-vindos, seguros e independentes. É sobre construir um futuro mais inclusivo para as famílias e para a sociedade como um todo”.

Adequado é melhor que adaptado

Investir em uma casa acessível é cuidar de si e de quem se ama

 

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“A acessibilidade vai muito além de uma obrigação técnica, ela é, acima de tudo, um investimento humano, inteligente e transformador”, afirma a arquiteta. De acordo com a profissional, quando se fala em projetar para todos, entramos no conceito do desenho universal: uma abordagem que busca criar ambientes inclusivos desde o início, pensados para atender o maior número possível de pessoas, sem a necessidade de adaptações posteriores. “Esse conceito valoriza a diversidade humana em toda a sua riqueza, promovendo autonomia e eliminando barreiras que vão além do espaço físico, incluindo aquelas sociais e culturais, que muitas vezes passam despercebidas”, destaca.

Para a arquiteta é fundamental entender que a acessibilidade não é algo “extra”, nem um detalhe para ser pensado no fim do projeto. “Ela deve ser parte integrante e essencial desde o primeiro traço, porque é essa postura que realmente faz a diferença na vida das pessoas, garantindo que todos possam viver com dignidade, conforto e liberdade”, pontua.