Tem coisas que, realmente, só acontecem em Bento Gonçalves. Agora que o Clube Esportivo parece estar entrando nos trilhos e se organizando de forma decente, aparece uma nova polêmica, do nada, para perturbar. Recebi informações de que está ocorrendo uma tentativa de um grupo ligado à Fundação Clube Esportivo de mudar o nome do Estádio Parque Esportivo Montanha dos Vinhedos para Estádio Parque Esportivo Darcy Pozza. A mudança, que vem sendo sugerida entre quatro paredes, acende um debate que vai muito além da simples troca de placas na fachada, mas de toda uma história por trás disso.
É inegável que Darcy Pozza merece reconhecimento. Como prefeito e deputado, foi um homem público de relevância e que, na época, destinou recursos federais que ajudaram a impulsionar a obra do estádio. Além disso, também foi jogador do clube, vestindo o manto alviazul. Sua trajetória política e seu papel no desenvolvimento da cidade são capítulos indiscutíveis da história local. Porém, não se pode esquecer que o nosso histórico político já foi homenageado com a nomenclatura do Ginásio Municipal de Esportes.
Além disso, cabe uma pergunta incômoda: seria Pozza o único a ter mérito nessa conquista? O que dizer de Dárwin Geremia e Aquiles Pizzetti, que, em um momento de descrença generalizada, assumiram a dianteira, articularam, lideraram e fizeram o estádio sair do papel, quando muitos já o classificavam como “elefante branco”? É preciso lembrar que a história raramente tem um só protagonista.
Há, ainda, um fator que não pode ser negligenciado: o nome Montanha dos Vinhedos não foi escolhido por acaso. Ele nasceu da vontade popular, de uma votação que traduziu o sentimento da comunidade em relação à obra. Mais do que um estádio, a “Montanha” carrega em si a simbologia da pujança, da força e da identidade de Bento Gonçalves, uma cidade erguida sob o signo da coletividade. Trocar esse nome, sem consulta e de forma silenciosa, seria um gesto que esvazia justamente esse espírito comunitário.
Aliás, a discreta articulação pela mudança piora ainda mais a situação. Ao tentar evitar o barulho da torcida, o grupo que defende a troca expõe um descompasso ainda maior com a essência do Esportivo: um clube que só existe porque sempre teve na comunidade a sua base de sustentação. O Alviazul foi erguido não por decretos ou decisões de gabinete, mas pela soma de vontades, sacrifícios e paixões.
Mudar o nome da Montanha sem ouvir Bento Gonçalves é mais do que injusto — é um desrespeito histórico. Nomes são símbolos, e símbolos não se alteram por conveniência ou vaidade política.
O debate não deve ser sobre negar a importância de Darcy Pozza, mas sobre entender que a história do estádio é plural e coletiva. Se a cidade quiser homenageá-lo, há outros caminhos: centros esportivos (como jáfio feito), ruas, escolas, praças. Mas a Montanha dos Vinhedos já pertence à memória, ao coração e ao grito da arquibancada. E contra isso, nenhuma articulação discreta pode prevalecer.