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Burnout: líderes adotam IA para prever esgotamento
Organizações intensificam o uso de inteligência artificial para detectar sinais precoces de esgotamento e melhorar a gestão da jornada de trabalho,...
08/07/2025 14h39
Por: Marcelo Dargelio Fonte: Agência Dino

O burnout — condição de esgotamento relacionada ao trabalho — tem se tornado um dos principais desafios organizacionais contemporâneos. Reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um fenômeno ocupacional, o esgotamento não afeta apenas a saúde mental dos colaboradores, como também impacta diretamente a produtividade e os custos operacionais das empresas.

Entre as soluções adotadas pelas empresas está o uso de tecnologias baseadas em inteligência artificial (IA) para antecipar sinais de desgaste. A startup brasileira Evope é um dos exemplos que aplicam IA para transformar dados operacionais dos computadores corporativos em indicadores que ajudam gestores a identificar padrões como excesso de horas, interrupções contínuas e concentração de tarefas. A partir desse diagnóstico, a plataforma, via IA integrada, apresenta insights com oportunidades de ações estratégicas. “Quando o gestor tem visibilidade sobre esse tipo de comportamento, ele pode redistribuir as demandas ou ajustar a jornada antes que isso se converta em um quadro de esgotamento,” afirma Danilo Lira, fundador e CEO da empresa.

Segundo estudo conjunto da OMS com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), jornadas superiores a 55 horas semanais estão associadas a um aumento de 35% no risco de acidente vascular cerebral (AVC) e 17% no risco de doenças cardíacas. O estudo ainda estima que, em 2016, o excesso de carga horária esteve relacionado a aproximadamente 745 mil mortes em todo o mundo.

De acordo com o MIT Sloan Management Review, fatores como sobrecarga de trabalho, interrupções constantes e falta de equilíbrio entre vida pessoal e profissional estão entre os principais elementos que contribuem para o burnout. Ambientes com cultura organizacional tóxica, por exemplo, são dez vezes mais preditivos de rotatividade voluntária do que remuneração ou carga horária elevada.

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Em um dos casos recentes acompanhados pela Evope, uma empresa do setor de tecnologia com mais de 300 colaboradores apresentava, no momento do diagnóstico, 27,5% dos profissionais com propensão ao burnout e 16,3% em estado persistente de esgotamento por dois meses ou mais. A ação implementada foi o bloqueio automatizado dos computadores após oito horas de uso diário, respeitando a jornada padrão. Caso fosse necessário ultrapassar esse tempo, o colaborador solicitava autorização do gestor direto. Após 60 dias, a propensão ao burnout caiu para 17% (redução de 38%) e os casos persistentes caíram para 9% (redução de 44%).

A tecnologia da Evope também permite configurar limites de carga horária, gerar alertas automáticos e fazer recomendações sobre redistribuição de atividades ou possibilidades de automação. “O objetivo não é vigiar, mas oferecer subsídios concretos para uma gestão mais equilibrada e preventiva”, complementa Lira.

Além dos impactos à saúde, o tema ganhou espaço na legislação brasileira. Desde 2022, a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1) ampliou a responsabilidade das empresas na identificação e prevenção de riscos psicossociais, incluindo o estresse ocupacional. A norma exige a implementação do Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR), com diretrizes do Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO), voltadas à proteção da integridade física e mental dos trabalhadores.

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Nesse contexto, o uso de ferramentas digitais como a da Evope tem sido considerado pelas empresas como apoio ao cumprimento das exigências normativas. Ao fornecer dados confiáveis sobre a jornada e os padrões de trabalho, a IA oferece base para decisões mais conscientes.

Segundo o relatório CEO Decision-Making in the Age of AI, do IBM Institute for Business Value, 66% dos executivos que utilizam IA na gestão de talentos relataram ganhos de eficiência em ações de prevenção e alocação de recursos humanos.

E com a consolidação de modelos híbridos e remotos, o monitoramento digital e transparente da jornada se torna um instrumento importante para a construção de ambientes mais sustentáveis. A detecção precoce de sinais de burnout, aliada a políticas claras de apoio à saúde mental, deve seguir como uma das prioridades estratégicas das empresas nos próximos anos.