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Ehlers-Danlos: saiba mais sobre a doença rara que afeta Carla Zambelli
A síndrome rara tem tratamento no Brasil
09/06/2025 18h46
Por: Marcelo Dargelio Fonte: Agência Brasil

A Síndrome de Ehlers-Danlos foi uma das justificativas apontadas pela deputada Carla Zambelli, do PL de São Paulo, para deixar o Brasil em busca de tratamento médico no exterior.

Também conhecida como SED, a doença rara é composta por um grupo de condições hereditárias que compartilham como característica comum a deficiência na produção ou na qualidade do colágeno, proteína que garante estrutura, firmeza e elasticidade à pele, ligamentos, vasos sanguíneos e outros órgãos.

A fisiatra Angélle Jácomo, especialista na síndrome, conta que um dos principais sintomas é popularmente conhecido como frouxidão ligamentar:

"O requisito básico é hipermobilidade articular, que são pacientes que possuem os ligamentos mais frágeis. São pessoas mais flexíveis e fazem amplitude de movimento que as demais pessoas não fazem. Então a Síndrome de Ehlers-Danlos do tipo hipermóvel ela cursa com dor, com cansaço, fadiga, com desequilíbrio que a gente chama de déficit de percepção, em geral são pessoas mais estabanadas, mais desequilibradas, mais cansadas. O paciente quando ele chega para gente em consulta, ele acha que ele tem 300 doenças. Em geral, ele tem uma com vários sintomas."

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Logo após ter sido condenada pelo Supremo Tribunal Federal a cumprir 10 anos de prisão por invasão ao sistema do Conselho Nacional de Justiça, Zambelli falou sobre sua saúde:

"Eu tenho um problema que se chama Ehlers- Danlos, é uma síndrome rara, só dá em pouquíssimas pessoas da população. Eu também descobri um problema do coração, que chama POTs, que é uma síndrome hiper cardíaca postural ortostática, não posso ficar muito tempo de pé. Eu tô pegando vários relatórios dos meus médicos e eles são unânimes em dizer que eu não sobreviveria na cadeia."

Não existem dados oficiais de quantas pessoas convivem com a SED no país, mas expectativas apontam que uma a cada cinco mil brasileiros tenha a síndrome. E com sintomas tão diversos, o diagnóstico é demorado. É o que explica o reumatologista Nilton Salles, do ambulatório de Reumatologia da Unisa, a Universidade Santo Amaro.

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"São 13 fenótipos que a gente fala que são distintos, que eu tenho uma base genética conhecida para a maioria deles. Eu tenho um, que na verdade é o mais comum, que seria o tipo hipermóvel, que não tem uma base genética conhecida até o momento, tá? E esse aí a gente tem critérios tipo um checklist que eu tenho que preencher, de acordo com sinais e sintomas, alterações de exames complementares que eu tenho que juntar para dar esse diagnóstico especificamente. A maioria das pessoas demora mais de 10 anos para receber o diagnóstico do médico, que passa por bem mais do que três médicos nessa investigação."

Especialistas afirmam que, embora o diagnóstico ainda seja um desafio, é possível ter acompanhamento adequado no Brasil, especialmente nos grandes centros urbanos. O presidente da ABRASED, a Associação Brasileira de Pessoas com Síndrome de Ehlers-Danlos e Transtornos do Espectro de Hipermobilidade, João Mendes, confirma:

"Já existem profissionais de saúde com conhecimento especializado sobre as síndromes de Ehlers-Danlos, as SEDs, os transtornos do espectro de hipermobilidade, TEH, e suas comorbidades associadas, como a Síndrome de Ativação Mastocitária, as disautomomias como a POTs e a Síndrome Vasovagal, neurodivergências ou até mesmo doenças autoimunes. Contudo, a maior parte dos atendimentos com esses especialistas ocorre em grandes centros ou por telemedicina"

Professor e médico responsável pelo ambulatório de doenças raras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Pedro Coscarelli ressalta que outro dos sintomas frequentes da SED é a dor crônica, que é resistente ao tratamento e prejudica a qualidade de vida das pessoas.

"O tratamento da dor crônica associado a Ehlers-Danlos é limitado. Sim, é. Mas não por falta de acesso ao tratamento, é pela natureza da dor crônica que a medicina ainda lhe dá muito mal. Em qualquer parte do mundo e não adianta sair do Brasil para isso, pois não terá nenhuma vantagem. Talvez ao contrário, longe dos familiares e do suporte emocional de pessoas próximas mas que sabemos que sabemos que influencia e muito na dor crônica, o tratamento será ainda mais ineficiente."

*Com produção de Patrícia Serrão