A confiança empresarial iniciou 2025 em queda no Brasil e em diversas partes do mundo. Segundo o International Business Report (IBR), levantamento global da Grant Thornton com lideranças de médias empresas, o otimismo no Brasil recuou de 74% no final de 2024 para 61% no primeiro trimestre deste ano. A redução de 13 pontos percentuais reflete um movimento de realinhamento estratégico em meio a um ambiente econômico marcado por juros altos, inflação persistente, instabilidade regulatória, tarifas comerciais, tensões geopolíticas, entre outros.
“Não estamos apenas diante de uma mudança de humor, mas sim de uma reorientação estratégica do setor produtivo, que volta a priorizar a proteção das margens e a manutenção da estrutura mínima de operação. A curva da confiança diz muito sobre o ambiente de negócios", afirma Daniel Maranhão, CEO da Grant Thornton Brasil.
Clima global também esfria
A tendência não é isolada: o otimismo global caiu pela primeira vez em dois anos, passando de 76% para 73%. A principal preocupação apontada por 55% dos entrevistados em todo o mundo é a incerteza econômica — reflexo de questões como políticas fiscais instáveis, barreiras comerciais e custos elevados.
Entre as principais variações regionais do otimismo empresarial estão:
A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) também apontou incertezas econômicas em relatório publicado no dia 16 de abril, projetando crescimento econômico mundial de apenas 2,3% em 2025. O limiar técnico de uma recessão global é de 2,5%.
Recuo nos investimentos, contratações e qualificação
No Brasil, os dados do IBR mostram retração generalizada nos planos de investimento e gestão de pessoas:
A tendência acompanha a desaceleração global, que também aponta redução nas expectativas de emprego (56%, -2 pontos percentuais) e expansão internacional (48%, -3 pontos percentuais). “As empresas estão optando por estruturas mais enxutas e adotando decisões mais conservadoras, inclusive no que diz respeito à valorização e ao desenvolvimento de talentos", destaca Maranhão.
De acordo com o executivo, esse movimento pode trazer efeitos colaterais sérios no médio prazo. “Capacitação não é custo — é ativo estratégico. Deixar de investir no desenvolvimento e na excelência das equipes pode significar a perda de competitividade justamente quando ela mais é necessária".
Tecnologia e ESG pressionados pelo curto prazo
Áreas estratégicas como tecnologia e sustentabilidade também estão sofrendo cortes. No Brasil, o investimento em tecnologia caiu de 90% para 85% e o foco em ESG recuou de 80% para 70%. A tendência acompanha o cenário global, que mostra:
“Essas áreas não podem ser tratadas como supérfluas. Elas são a base da sustentabilidade e da relevância futura das empresas", alerta Maranhão. “Quando cortamos investimentos em tecnologia e ESG, corremos o risco de ficar para trás em um mercado que exige cada vez mais responsabilidade e inovação", ressalta.
Setores mais impactados e os que mantêm fôlego
Segmentos de alta demanda por capital, como construção civil e indústria de base, estão entre os mais afetados pela cautela. Já áreas como saúde, tecnologia e serviços digitais, que operam com mais flexibilidade e menor exposição a cadeias de suprimento internacionais, mantêm desempenho mais estável.
Além disso, preocupações com acesso a financiamento (46%, +3 pontos percentuais), aumento da regulação (51%, +2 pontos percentuais) e pressões competitivas (53%) reforçam a necessidade de gestão ágil e estrutura decisória clara. “Empresas que conseguem ser dinâmicas e inovar mesmo sob restrições demonstram resiliência e estão mais preparadas para retomar o crescimento. A inovação não é um luxo: é uma ferramenta de sobrevivência estratégica”, afirma.
As médias empresas e o papel da liderança
Responsáveis por cerca de 30% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e pela maior parte dos empregos formais, as médias empresas continuam sendo termômetro e motor da economia. “Quando essas empresas reduzem seu ritmo, o sinal é claro: o ambiente deixou de ser seguro para o crescimento. Mas também são motores potentes. Dada a sinalização adequada, elas retomam a inovação e o investimento com agilidade surpreendente", pontua Maranhão. “Elas têm a velocidade das pequenas e a estrutura das grandes — uma combinação que, em contextos favoráveis, gera dinamismo”, observa o executivo.
O estudo também destaca o papel da liderança neste cenário. “O papel da liderança é ser farol na tempestade. É quem deve manter a equipe coesa, engajada e conectada a um propósito maior, mesmo quando as metas precisam ser revistas ou os caminhos redesenhados”, completa.
Perspectivas: como virar a maré?
Para a Grant Thornton, a travessia de 2025 exige um esforço conjunto de empresas, sociedade e governos. As recomendações passam por:
“A travessia será exigente, mas não é impossível. Com responsabilidade compartilhada, podemos transformar essa fase de cautela em um ciclo renovado de crescimento”, finaliza Maranhão.