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Clínicas recuperam idosos em duas semanas contra nove meses
Apesar do preconceito, dados mostram que idosos em instituições de longa permanência têm recuperação mais rápida e maior sociabilidade do que em casa
30/04/2025 10h03
Por: Marcelo Dargelio Fonte: Agência Dino

O Brasil está envelhecendo rapidamente. De acordo com De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 15% da população brasileira já tem 60 anos ou mais, aproximadamente 32 milhões de pessoas. Com projeções indicando que esse percentual chegará a 30% até 2050, a demanda por soluções especializadas para cuidados com idosos cresce a cada dia. Porém, um dos maiores desafios enfrentados por famílias não é apenas encontrar uma instituição adequada, mas superar o estigma associado às "casas de repouso".


Um dos preconceitos mais persistentes em relação às instituições de longa permanência para idosos (ILPIs) é a ideia de "abandono familiar". Este sentimento é compartilhado tanto pelos familiares quanto pelos próprios idosos. "Sentimos que ainda temos no Brasil um problema muito sério, que é o preconceito sobre as instituições de longa permanência. As famílias estão sempre chorando porque acham que vão abandonar a mãe pelo resto da vida," explica Vanda, coordenadora da Clínica Portal 8, especializada na reabilitação de idosos em Vargem Grande Paulista, São Paulo.

De acordo com o Jornal Brasileiro de Psiquiatria, existem evidências de que as más condições de saúde física e psíquica do cuidador familiar são apontadas como importantes preditores para institucionalização do indivíduo com demência já nos estágios iniciais. Isso indica que, quando o cuidado domiciliar se torna insustentável para a família, a institucionalização especializada pode ser uma alternativa mais adequada para garantir cuidados apropriados.

A eficiência da equipe multidisciplinar

Enquanto em casa um idoso com problemas de saúde normalmente recebe visitas médicas esporádicas, em uma instituição especializada ele tem acesso a uma equipe completa 24 horas por dia. Isso permite ajustes rápidos de medicação, acompanhamento diário de progressos e intervenções imediatas quando necessário.

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"Na instituição, o paciente chegou com demência, agitado, agressivo, a gente vai acompanhar diariamente. Porque às vezes está fazendo um comprimido de uma determinada medicação, aí a gente descobre que não pode ser uma, é metade. Então é uma luta de umas duas semanas para acertar o timing dessa pessoa. Só que em duas semanas você resolve o que resolveria em nove meses de três, quatro idas no médico," destaca Vanda.

Recuperação emocional e social

Outro fator determinante na recuperação de idosos é o aspecto social. Em casa, idosos tendem a ficar isolados, muitas vezes limitados a um quarto e com interações sociais reduzidas. Instituições especializadas promovem a socialização constante, seja com outros residentes ou com a equipe.

Um caso contado por Vanda é o do Sr. Pedro, um paciente que fraturou o fêmur e ficou dois meses internado no hospital. Quando foi para casa, passava o dia inteiro no quarto, com cuidados básicos apenas duas vezes ao dia. Após ser transferido para a clínica especializada, sua disposição e sociabilidade melhoraram drasticamente. Hoje, ele participa de atividades de artesanato, leitura, passeios no jardim e na horta — atividades que nunca realizava em casa.

A importância do ambiente estruturado

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Instituições especializadas oferecem ambientes projetados para as necessidades específicas dos idosos. Desde a adaptação física dos espaços até a programação de atividades diárias, tudo é pensado para promover independência, segurança e bem-estar.

Para idosos com demência, a estrutura e a rotina são fundamentais. Em casa, familiares muitas vezes enfrentam resistência para tarefas básicas como banho e alimentação. Na instituição, técnicas especializadas e experiência da equipe fazem diferença.

"Se ele não quer o banho, eu não posso bater de frente com ele. Eu tenho que distrair ele para fazer esse banho. E às vezes é simples. Eu falo: 'Se o neto vem no final de semana te visitar, vamos tomar um banho, vamos fazer a barba'", exemplifica a especialista.

O mercado em transformação

Seguindo a tendência da economia prateada ("silver economy"), o mercado de instituições para idosos está se transformando rapidamente no Brasil. As casas de alto padrão, com mensalidades que chegam aos 5 dígitos, são apenas uma parte desse ecossistema.

O diferencial das clínicas especializadas em reabilitação está no nível do cuidado oferecido, que vai muito além da hospedagem. Estas instituições funcionam quase como hospitais, mas com o calor humano e ambiente acolhedor que fazem toda diferença na recuperação.

"Hospital é um lugar com energia diferente de uma casa que tem cheiro de comida, que tem cheiro de café, que tem pessoas circulando ali o tempo inteiro, mas de forma diferente do hospital," conclui Vanda.

Para famílias que enfrentam o dilema entre cuidado domiciliar e institucional, a mensagem dos especialistas é clara: mais importante que o local do cuidado é sua qualidade e adequação às necessidades específicas do idoso.